A estratégia que Bolsonaro tenta emplacar se ficar fora das urnas em 2026
Aliados passaram a defender que eleitorado deve estar atento à escolha de senadores alinhados ao bolsonarismo para respaldar futuro presidente de direita

Entre pedidos por anistia e críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao governo Luiz Inácio Lula da Silva, os discursos no ato de Jair Bolsonaro, em São Paulo, no último domingo, 29, tiveram quase que como unanimidade a defesa de que, caso queira sobreviver, o bolsonarismo precisa eleger mais parlamentares — sobretudo senadores — nas eleições de 2026.
A estratégia, que tem sido repetida à exaustão pelo próprio ex-presidente, ecoou nas vozes das dezenas de mandatários que ocuparam o trio elétrico na Avenida Paulista. Com a inelegibilidade de Bolsonaro a caminho de uma derradeira confirmação, os fiéis aliados, embora adotem a narrativa de que o ex-capitão será o candidato da direita “até os 48 minutos do segundo tempo”, já passam a modular o discurso: haverá, de fato, um representante e detentor do espólio da direita com a unção de Bolsonaro, mas que precisará de respaldo no Congresso.
São os senadores que têm a prerrogativa de, por exemplo, julgar pedidos de impeachment contra ministros do STF e também de barrar determinadas decisões da Corte.
Ao comentar a articulação pela aprovação do projeto de anistia aos envolvidos no 8 de janeiro e supostos “desmandos” do Supremo no país, diversos parlamentares frisaram a necessidade de um Parlamento que faça frente ao Judiciário.
“É uma vergonha que a gente dependa de sanções internacionais para colocar de volta os poderes dentro do seu quadrado constitucional. É por isso que precisamos de um Congresso forte, precisamos de um Senado com homens e mulheres que façam o que têm que fazer”, disse a deputada federal Bia Kicis (PL-DF).
A mesma linha foi adotada pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) que, além de citar a necessidade de ampliação dos quadros da direita, afirmou que o espectro, liderado por Bolsonaro, tem sido alvo de perseguições no país.
“Se estamos aqui hoje para pedir Justiça, que é simbolizada por uma balança, é porque todos sabemos que essa balança está completamente desequilibrada. Pesando para o lado da perseguição, da injustiça, do ataque às prerrogativas de parlamentares, da liberdade de expressão, liberdade de imprensa, atropelo em prerrogativas de advogados para condenar alvos pré-escolhidos”, declarou, acrescentando que “todos nós”, em referência ao eleitorado de direita, precisam ocupar as ruas e as redes sociais e garantir um Senado mais forte, sob a liderança de Bolsonaro.
Líder do PL na Câmara, o deputado federal Sóstenes Cavalcante (RJ) citou a “perseguição” que potenciais candidatos a senador têm sofrido do Judiciário. O parlamentar afirmou que, hoje, dos 65 deputados investigados pelo STF, 39 são do PL — o restante, disse, são nomes de direita que pertencem a partidos de centro.
“Já está claro o que eles querem. É perseguir possíveis candidatos a senadores da direita com chances reais de ganhar. Mas tenho certeza que o povo brasileiro vai dar um recado em 2026, que nós do Brasil somos da direita, somos conservadores”, disse. Um dos exemplos dados por ele foi o da deputada cassada Carla Zambelli (PL-SP) — por decisão do Supremo, ela perdeu o mandato por ter invadido os sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e está foragida na Itália.
Câmara e Senado
Também no ato de domingo, 29, Bolsonaro reafirmou que, caso o eleitorado garanta a ele 50% da Câmara e do Senado, não interessa “onde esteja, aqui ou no além, quem assumir a liderança vai mandar mais que o presidente da República”.
Atualmente, o PL tem a maior bancada na Câmara, com 91 deputados — eram 99 no início da Legislatura, em 2023. No Senado, é a segunda maior legenda, com catorze parlamentares, atrás apenas do PSD de Gilberto Kassab, que tem quinze.
O cálculo do entorno bolsonarista leva em consideração, obviamente, não apenas o PL, mas partidos que têm mandatários aliados ao bolsonarismo, como o Progressistas, o União Brasil e o Republicanos. Essas mesmas legendas, no entanto, têm sido alvo de críticas ferozes de aliados do ex-presidente. No mesmo ato, Silas Malafaia disparou contra o que classificou como “direita prostituta e vagabunda”, em alusão a partidos que têm ministérios e cargos no governo Lula e que, ao mesmo tempo, brigam pelo espólio eleitoral de Bolsonaro na esteira da inelegibilidade do ex-presidente.