A ameaça do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, de invadir e anexar mais da metade da vizinha Guiana, que escalou nas últimas semanas, fez com que pequeno país sul-americano de 804.000 militantes batesse às portas de vários aliados de peso para pedir ajuda.
Uma das portas nas quais o presidente guianense, Mohamed Irfaan Ali, bateu foi a da Casa Branca. Seu pedido de ajuda já obteve guarida. O presidente americano, Joe Biden, enviou à Guiana chefes do Comando Sul das Forças Armadas americanas para planejar a defesa do país.
O Comando Sul, que fica sediado na Flórida e é liderado por um comandante quatro estrelas, é a organização responsável por planejar operações e planos de cooperação para garantir a segurança na América Central e do Sul e Caribe em questões que ameaçam os interesses americanos.
Outro que se movimenta é o presidente francês Emmanuel Macron. Autoridades militares da Guiana Francesa, um departamento ultramarino da França – e, portanto, sob a jurisdição do país europeu –, também se reuniram com seus colegas da Guiana para externar o “compromisso inabalável com a paz e a segurança na Guiana e em toda a região”.
Irfaan Ali também ligou no último dia 9 para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que é aliado de Maduro, para pedir a sua intervenção. Na semana passada, o brasileiro mandou o ex-chanceler Celso Amorim, principal assessor da Presidência da República para assuntos internacionais, para um encontro com Maduro em Caracas.
Caso a ameaça de invasão se concretize, a Guiana vai de fato precisar de muita ajuda. O pequeno país tem hoje apenas 4.000 soldados na ativa. Já Maduro dispõe de um exército oficial de 109.000 homens, além de um estimado contingente de 220.000 combatentes em forças paramilitares .
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Maduro não recua
Nesta sexta-feira, 1, a Corte Internacional de Justiça, em Haia, proibiu a Venezuela de invadir a Guiana. Até agora, nada adiantou. Maduro continua participando ativamente de atos públicos – com militares, estudantes e movimentos sociais simpatizantes do chavismo – para pedir mobilização para o referendo que ele convocou para o domingo, 3, que dirá se a Venezuela deve ou não seguir em frente na reivindicação de mais de 60% do território do país vizinho.
A reivindicação territorial da Venezuela não é nova, mas ganhou escala nos últimos dias em razão de dois fatores: a proximidade das eleições no país, em 2024, e o boom econômico do vizinho na esteira do avanço da exploração de petróleo na região, cujo potencial ultrapassa 11 bilhões de barris. O petróleo fez com que a economia do país quadruplicasse nos últimos cinco anos. No ano passado, o crescimento do PIB de 62% foi o maior do mundo, segundo o Fundo Monetário Internacional.
Cobiça por petróleo
O alvo da cobiça é a região de Essequibo, uma área de 160 mil quilômetros quadrados formada em sua maioria por uma densa floresta cortada por rios caudalosos, que faz fronteira com Roraima e que representa dois terços do território da Guiana (veja mapa nesta página). A posse da região foi concedida em 1899 à Guiana, à época uma colônia inglesa, por meio de arbitragem feita pelos Estados Unidos. A Venezuela questiona desde então a decisão e, em 1966, chegou a firmar um acordo com a Inglaterra, que reconhecia como nulo o Laudo Arbitral. Naquele mesmo ano, no entanto, a Guiana conquistou a independência, o que na prática manteve o acordo em suspenso até hoje.
Reportagem de VEJA desta semana mostra como a movimentação de Maduro virou um grande problema para Lula, que é o principal aliado na região do regime chavista.