Um dos nomes mais emblemáticos da esquerda brasileira, o ex-guerrilheiro e ex-deputado José Genoino já experimentou o topo do poder, ao presidir nacionalmente o PT entre 2003 e 2005, exatamente quando Luiz Inácio Lula da Silva chegou ao Palácio do Planalto.
Também foi um deputado respeitado no Congresso, onde exerceu sete mandatos, o primeiro deles conquistado em 1982, dois anos após a criação do PT, do qual foi um dos fundadores. Antes, por doze anos, esteve no PCdoB e participou da Guerrilha do Araguaia, talvez o mais célebre levante armado contra a ditadura militar.
Mas caiu em desgraça a partir de 2005 quando foi denunciado por corrupção ativa e formação de quadrilha no escândalo do Mensalão. Os desdobramentos do caso o levariam à prisão na penitenciária da Papuda, em Brasília – de onde saiu para o regime aberto – e o obrigou a renunciar ao mandato na Câmara em dezembro de 2013.
Ele teve a pena extinta pelo Supremo Tribunal Federal em 2014, após um indulto da presidente Dilma Rousseff a todos os presos que estavam cumprindo pena em regime aberto. Em 2020, foi inocentado pela Justiça do crime de falsidade ideológica (por ter assinado falsos empréstimos ao PT) quinze anos depois do início da investigação.
Depois de um tempo no ostracismo, Genoino volta a ser uma voz importante dentro do PT. No final do ano passado, foi um dos que verbalizaram a insatisfação com a aliança com Geraldo Alckmin (PSB), com quem disputou o segundo turno da eleição para o governo de São Paulo — teve 41% dos votos.
Em maio deste ano, Genoino foi um dos dirigentes do partido escalados para receber Cristian Rodriguez, candidato a deputado na França como representante da América Latina pelo grupo de esquerda França Insubmissa, liderado por Jean-Luc Mélenchon, que venceu as eleições legislativas deste mês.
Nesta segunda-feira, 27, ele deu uma entrevista de 20 minutos para o jornal PT Brasil, da TV PT, onde falou como um político de novo na ativa, embora ainda não tenha dito, em nenhum momento, que pretenda ser candidato.
O Genoino que volta à política é bem mais radical do que aquele que, como presidente do PT quando o partido era governo, era tido como articulador e conciliador. Na entrevista, saudou a vitória da esquerda em vários países da América do Sul, criticou a “política imperialista” dos EUA contra Cuba e Venezuela e a “entrega” da Base de Alcântara, defendeu a taxação de fortunas, atacou iniciativas do ex-presidente Michel Temer como o teto de gastos e o projeto Ponte para o Futuro e defendeu políticas nacionalistas, de diversidade e de inclusão social.
Mas apesar do tom radical do discurso, ele defendeu, ao final, que a política precisa “encantar”. “A política só tem sentido se ela encantar. Não é a política do ódio, não é a política da vingança, não é a política do medo, como esses caras estão vendendo por aí’, disse.