Abaixo-assinado do PT contra Alckmin fala em ‘zelar pela vida’ de Lula
Autor de petição diz que é preciso considerar que Lula já é idoso e que eventual substituto não pode ter ideias contrárias às do ex-presidente e do partido
O abaixo-assinado organizado por filiados do PT contrários à aliança do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (sem partido) para a formação de uma chapa para as eleições à Presidência deste ano expõe, dentre os motivos para a militância de base não querer essa aliança sem diálogo, a necessidade de “zelar pela vida do companheiro Lula” ante um acordo dessa natureza.
O temor, segundo o organizador da petição, Daniel Kenzo, presidente do diretório do PT do bairro do Butantã, na zona oeste de São Paulo, é que “Lula já é uma pessoa com mais de 75 anos” — o ex-presidente completou 76 em outubro passado. “É arriscado ter um vice que é totalmente oposto ao que Lula sempre defendeu”, disse ele a VEJA.
Lula lidera todas as pesquisas de intenção de voto à Presidência, que apontam até a possibilidade de vitória no primeiro turno. A petição, que pede que o vice de Lula seja “uma mulher ou um homem comprometido com o programa de reconstrução e transformação, pessoa de total confiança política e sem nenhum vínculo com o golpismo e o neoliberalismo”, caminhava nesta segunda-feira, 17, para a marca de 1.200 assinaturas.
Alckmin é descrito na petição como um agente que ‘apoiou publicamente toda a operação golpista e neoliberal” que resultou no impeachment de Dilma Rousseff em 2016. O documento destaca que o então vice dela, Michel Temer (MDB), teve “papel estratégico” no processo. Dessa forma, o vice teria de ser uma pessoa disposta a manter a defesa da agenda do PT, caso seja preciso assumir o posto do eventual presidente.
Kenzo, entretanto, afirma que o documento não é uma interdição prévia ao nome do ex-tucano nem uma sinalização de que as bases do PT não farão campanha para Lula caso o vice de fato seja Alckmin. Segundo disse, é um aviso de que os militantes querem, primeiro, um compromisso do vice com bandeiras que Alckmin, até hoje, não demonstrou ter. “A reforma trabalhista já deu todo esse barulho. Ainda temos outras questões, como a reforma da Previdência, o teto de gastos, a autonomia do Banco Central”, afirma.
O dirigente regional afirma ainda que a maior parte das assinaturas até agora é de membros da legenda de São Paulo, que lutaram contra políticas de Alckmin na educação, na saúde e na segurança pública, mas que buscam agora petistas de outros estados, em especial da Bahia e do Rio de Janeiro. Até a próxima quarta-feira, uma primeira leva de nomes que assinaram a petição deve ser divulgada no site onde a petição foi publicada. Entre os dirigentes que assinaram o manifesto, segundo Kenzo, estão nomes como Adriano Diogo, José Genoíno e Rui Falcão.
Leia a petição:
Considerando a necessidade de eleger Lula.
Considerando a necessidade do governo Lula dar início a transformações profundas no Brasil.
Considerando que estas transformações vão enfrentar a oposição do bolsonarismo, do lavajatismo e do neoliberalismo.
Considerando que estas três forças reacionárias deram um golpe em 2016.
Considerando que estas três forças reacionárias participaram e aplaudiram e se beneficiaram da condenação, da prisão e da interdição de Lula em 2018.
Considerando que estas três forças reacionárias se aliaram para eleger Bolsonaro e apoiam o núcleo de seu programa de governo.
Considerando o papel estratégico do então vice-presidente Michel Temer em toda esta operação.
Considerando que Geraldo Alckmin participou e apoiou publicamente toda esta operação golpista e neoliberal.
Considerando que Geraldo Alckmin tem uma longa trajetória de combate às posições nacionais, democráticas, populares e desenvolvimentistas.
Considerando os atos cometidos nos governos de Alckmin contra os trabalhadores em geral, contra os servidores públicos, contra a saúde e a educação, contra a segurança pública, contra negros e negras, contra jovens e estudantes, contra os moradores da periferia, contra o meio ambiente.
Considerando que devemos zelar pela vida do companheiro Lula.
Considerando, finalmente, que absolutamente nada indica que entregar a vice a um golpista neoliberal seja necessário para ganhar as eleições.
Considerando tudo isto, nós abaixo assinados, filiados e simpatizantes do PT, cidadãos e cidadãs que vamos eleger Lula em 2022, demandamos ao Diretório Nacional do PT que:
1) Informe ao país que a decisão sobre a vice será tomada pelo Partido, em encontro nacional, nos prazos previstos em lei e seguindo as determinações do estatuto do PT;
2) Informe ao país que a vice de Lula será uma mulher ou um homem comprometido com o programa de reconstrução e transformação, pessoa de total confiança política e sem nenhum vínculo com o golpismo e o neoliberalismo, sob qualquer de suas formas.
Assinam: