Aécio Neves: proposta de incorporação desrespeita história do PSDB
Deputado federal e principal cacique tucano está no centro da mesa de negociação sobre o futuro do partido

Principal líder tucano, o deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG) está no centro dos debates sobre o futuro do PSDB ao lado do presidente nacional do partido, Marconi Perillo, do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, e do secretário-geral da legenda, o deputado Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG). Diante da constatação de que o risco de não atingir a cláusula de barreira pela expectativa de desempenho fraco nas próximas eleições, os tucanos jogam com as armas que têm para conseguir o melhor acordo possível sobre o que restará do partido – leia reportagem sobre o assunto na última edição de VEJA.
“O PSDB não está à venda”, declara Aécio. No entanto, os movimentos são típicos de uma intensa negociação. As propostas que estão na mesa vêm, principalmente, do MDB, do PSD e do Republicanos. Há também a possibilidade, ainda que menos provável, de se federar com partidos menores, como o Podemos e o Solidariedade.
Em entrevista a VEJA, Neves deixou claro que não aceitará qualquer acordo e que o PSDB tem condições de fazer suas exigências. Entre elas: participação no programa partidário e garantia que poderá lançar um candidato ao Planalto – Eduardo Leite é o primeiro da fila. Ao dizer que não aceitará uma incorporação, o parlamentar passou um recado para Gilberto Kassab, cacique do PSD. Ao mesmo tempo, faz um gesto para o partido ao sinalizar que gostaria de ver o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) como governador de Minas Gerais. Confira os principais trechos da conversa.
O futuro do PSDB é ser incorporado por outro partido? O PSDB não está à venda. O PSDB não será incorporado por nenhuma outra força política, pela simples razão de que nós temos compromisso com o Brasil. Está fora de cogitação, não só em relação ao PSD, mas a qualquer partido. Acho, inclusive, um desrespeito ao PSDB, a sua história, a proposta de incorporar o partido para resolver meia dúzia de situações regionais. O que nós estamos discutindo é uma conjunção de forças dispostas a construir um projeto alternativo à polarização no país. Isso pode passar pela ampliação da federação ou por uma fusão que preserve o programa do PSDB. Principalmente, a nossa independência para apresentar um projeto de candidatura em 2026. A tese que foi ventilada e até mesmo tratada por muitos, como já definida, de sermos incorporados, eu posso garantir que não ocorrerá.
E há um prazo para essa definição? O erro mais primário que as pessoas cometem na política é marcar uma data definitiva. As decisões políticas são tomadas quando elas estão maduras. O presidente Tancredo [Neves, tio de Aécio] dizia que “a arte da política é administrar o tempo”. Nós vamos conversar, não tem pressão interna, nem externa e, no tempo certo, nós vamos tomar nossa decisão. Deve ocorrer esse ano, mas sem nenhuma pressão de semanas ou de meses.
Por que o PSDB percebeu a necessidade de se aliar a outro partido? O Brasil é um país de partidos políticos que não representam qualquer segmento de pensamento. São mais de trinta partidos. O caminho normal é a diminuição desse número, através de federações, fusões. Esse é um processo, ao meu ver, saudável para a política brasileira, que estamos fazendo e outros vão fazer.
Fala-se que, numa eventual ligação com o PSD, o senhor teria preocupação com o espaço que teria em Minas Gerais. Isso é fato? Não. Isso é dito por quem não conhece a política mineira. O Rodrigo Pacheco, do PSD, é nosso aliado. Ele se elegeu com o nosso apoio, numa vaga que era do PSDB, inclusive, na minha vaga de senador. Eu vejo com muita simpatia a oportunidade de ele ser o nosso candidato a governador de MInas Gerais. O PSD tem uma aliança com o governo nacional, mas localmente, é nosso aliado histórico. Esse não é o problema. O próprio Alexandre Silveira, hoje ministro de Lula, foi meu aliado a vida inteira e depois do [ex-governador tucano Antonio] Anastasia. Essa plantação tenta diminuir as razões da nossa decisão. A incorporação está fora de cogitação porque nos tira do jogo político.