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A política e seus bastidores. Com Laísa Dall'Agnol, Victoria Bechara, Bruno Caniato, Valmar Hupsel Filho, Isabella Alonso Panho e Ramiro Brites. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.

África do Sul, que pode ter Crivella embaixador, é chave para a Universal

País foi tão estratégico na expansão pelo continente que Edir Macedo nomeou o sobrinho para a missão; indicação é sinal de Bolsonaro ao líder evangélico

Por Eduardo Gonçalves Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 7 jun 2021, 14h55 - Publicado em 7 jun 2021, 14h48

A Igreja Universal do Reino de Deus iniciou a expansão pelo continente africano por meio de Angola, em 1992, mas foi na África do Sul onde mais cresceu em número de templos e fiéis. Instalada no país desde 1993, quando o regime do apartheid (separação entre brancos e negros) ainda vigorava, a Universal Church of the Kingdom of God (como é chamada lá) tem hoje mais de 300 unidades espalhadas por todas as nove províncias do país.

No projeto de expansão internacional da Universal idealizado pelo seu fundador, o bispo Edir Macedo, a África do Sul era tão importante que ele mandou o seu sobrinho, o então bispo Marcelo Crivella, para tocar o empreendimento. Baseado na África do Sul nos anos 1990, ele viajou a cerca de 20 países do continente para abrir filiais da megainstituição religiosa e concretizar o plano do tio.

Crivella agora pode voltar ao país onde ele viveu por mais de sete anos, tornou-se uma espécie de celebridade gospel (uma das músicas mais famosas da sua carreira de cantor se chama África) e fez mestrado em engenharia na Universidade de Pretória. Ele teria sido indicado pelo governo Jair Bolsonaro ao cargo de embaixador do Brasil na África do Sul, segundo informações publicadas pelo jornal Correio Braziliense neste domingo, dia 6. O pedido está em sigilo e precisa de aprovação das autoridades sul-africanas.

A indicação vem no mesmo momento em que a Universal enfrenta uma das piores crises da sua história no continente africano. Uma ala de bispos e pastores de Angola rompeu com Edir Macedo e tomou cerca de 200 igrejas no país. O grupo brasileiro tentou reaver os templos na Justiça, mas não conseguiu. E agora tem sofrido processos de deportação e investigação por evasão de divisas, lavagem de dinheiro, discriminação e imposições de vasectomia em pastores — as mesmas denúncias também já começaram a ser ventiladas em São Tomé e Príncipe e Moçambique.

A crise em Angola, que só vem se acentuando após as derrotas na Justiça, deflagrou um conflito no Brasil entre Edir Macedo e o presidente Jair Bolsonaro — o bispo sempre foi um dos principais aliados de Bolsonaro no segmento evangélico, mas a relação entre os dois começou a ficar estremecida com o caso de Angola. Lideranças ligadas a Macedo passaram a fazer críticas públicas à forma tímida como o Itamaraty se envolveu na batalha angolana  e temem que o levante contra a Universal se espalhe por outros 30 países do continente onde a instituição está presente.

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Apesar de Angola e África do Sul estarem separadas por mais de 2.000 quilômetros, uma das acusações mais sérias feitas pelos pastores angolanos é que parte do dinheiro arrecadado nas igrejas do país era levada de carro à África do Sul e de lá encaminhado ao Brasil. A igreja de Edir Macedo tem negado todas as acusações e diz ter sido vítima de perseguição e fraude de ex-líderes da instituição, que foram expulsos por desvios morais e teriam tomado os templos por meio de um “golpe”.

A indicação de Crivella para a embaixada seria, além de uma estratégia para reduzir o desgaste de Bolsonaro com a Universal, uma compensação para o ex-prefeito do Rio de Janeiro, que, mesmo com o apoio do presidente, foi derrotado por Eduardo Paes em sua tentativa de reeleição ao cargo em 2020.

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