As lideranças de direita que ‘fugiram’ do palanque de Bolsonaro no Rio
Entre os governadores bolsonaristas, apenas Cláudio Castro e Tarcísio marcaram presença; Michelle falta ao evento em razão de procedimento estético

No último domingo 16, o ex-presidente Jair Bolsonaro foi acompanhado por nomes de peso da direita em sua manifestação na Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro. Ao lado do capitão, no trio elétrico, discursaram os governadores Cláudio Castro (PL) e Tarcísio de Freitas (Republicanos), o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e os deputados federais Nikolas Ferreira (PL-MG) e Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), entre outras lideranças bolsonaristas.
Não passou, porém, despercebida a ausência de alguns aliados — muitos dos quais devem sua popularidade, em boa parte, à bênção de Bolsonaro —, que preferiram não marcar presença ao lado do ex-presidente no evento. A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, por exemplo, não compareceu e justificou ao portal Metrópoles que estava se recuperando de um “procedimento cirúrgico estético”, sem mais detalhes.
Os governadores de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), e de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), faltaram à manifestação, mesmo sem compromissos previstos em suas agendas oficiais. À medida que o cerco da Justiça se fecha contra Bolsonaro, investigado por envolvimento em tentativa de golpe de Estado, os três líderes vêm trabalhando para descolar sua imagem do ex-presidente enquanto disputam o voto do eleitorado de direita para as eleições presidenciais de 2026.
Na noite de ontem, em entrevista veiculada na Globonews, Caiado defendeu a anistia aos presos pelos atentados de 8 de janeiro de 2023, pauta central do ato bolsonarista, e publicou trecho em seu Instagram citando “a manifestação de hoje, em Copacabana”, na legenda. O governador goiano gerou atritos com bolsonaristas ao anunciar sua pré-candidatura ao Planalto em 22 de fevereiro, três dias após a denúncia da Procuradoria-Geral da República contra Jair Bolsonaro.
Zema, por sua vez, também é defensor do projeto de anistia, mas não comentou a manifestação no Rio de Janeiro nem sua ausência — a segunda consecutiva em atos de apoio a Bolsonaro, tendo faltado também ao evento no último 7 de Setembro em São Paulo. O último encontro público entre o governador e o ex-presidente ocorreu há mais de um ano, em protesto na capital paulista em 24 de fevereiro. O mineiro também vem protagonizando rixas com o bolsonarismo ao descartar o nome do senador Cleitinho (Republicanos-MG) ao governo de Minas, apostando no vice-governador Mateus Simões (Novo) à sucessão.
Ratinho Júnior, outro apoiador da anistia pelo 8 de Janeiro, tampouco comentou o ato em Copacabana ou justificou a decisão de não comparecer. O governador, no entanto, tem encontro marcado com Jair Bolsonaro no próximo dia 4 de abril, em Curitiba, que deve oficializar a candidatura do deputado federal Filipe Barros (PL-PR) ao Senado pelo Paraná. Em 2024, o mandatário estadual e o ex-presidente articularam uma aliança eleitoral bem-sucedida entre PSD e PL que resultou na vitória de Eduardo Pimentel (PSD) à prefeitura da capital paranaense.
“Não estarei em Copacabana, mas é minha posição”, diz Moro ao defender anistia
Pelas redes sociais, o senador Sergio Moro (União Brasil-PR) declarou apoio à pauta da anistia e informou que não participaria do evento, sem explicar a ausência. “As punições são excessivas e arbitrárias. Não estarei em Copacabana, mas essa é minha posição”, escreveu o ex-juiz da Operação Lava Jato no X (ex-Twitter).
Para deixar claro, reitero neste domingo o que tenho dito: sou favorável à anistia para os manifestantes do 8/1. Ninguém concorda com a invasão de prédios públicos e o vandalismo, mas as punições, com até 17 anos de prisão, são excessivas e arbitrárias. Também sou e sempre serei…
— Sergio Moro (@SF_Moro) March 16, 2025
Ex-ministro da Justiça sob Jair Bolsonaro, Moro rompeu com o governo em 2020, acusando o então presidente de interferência política na Polícia Federal. Em 2022, fez as pazes com o bolsonarismo e apoiou o capitão às eleições presidenciais daquele ano, quando foi eleito senador pelo Paraná.
Em entrevista recente a VEJA, Moro condenou o vandalismo praticado pela multidão no 8 de Janeiro, mas disse não ver indícios de ligação entre a quebradeira e a trama golpista envolvendo Jair Bolsonaro. “A meu ver, ali foi uma multidão que fez um ato tresloucado, reprovável, mas dizer que aquilo foi parte de um plano de golpe é um pouquinho difícil e não existem provas sobre isso”, afirmou.