Titular de uma pasta que nasceu com status de superministério, Osmar Terra balança em seu cargo à frente do Ministério da Cidadania. Responsável por gerir os repasses do Bolsa Família, o ministro está no centro de uma crise envolvendo o programa assistencial, mas este é apenas um dos motivos que explicam por que Terra pode ser substituído em breve pelo presidente Jair Bolsonaro.
Como VEJA mostrou com exclusividade, no primeiro ano do governo Bolsonaro, a fila de espera para ter acesso aos repasses mensais do Bolsa Família chegou a cerca de 494 mil famílias em situação de pobreza e de extrema pobreza, que tem renda mensal de 89 reais a 178 reais por pessoa. O número representa a maior alta de famílias à espera de serem incluídas no programa de transferência de renda desde 2015, quando 1,2 milhão ficaram de fora. A fila havia sido zerada em 2018, ano que terminou com toda a população apta a receber os benefícios atendida.
O aumento da fila é um reflexo da política conduzida pelo ministro em relação ao Bolsa Família. Reportagem de VEJA mostrou que a pasta praticamente paralisou a entrada de novos beneficiários desde junho do ano passado, quando a quantidade de novas famílias aceitas na folha de pagamento despencou de 250.000 para 2.500 – e se manteve até dezembro nesse ritmo.
Além da crise envolvendo o Bolsa Família, Osmar Terra é mal avaliado por Bolsonaro e por aliados do presidente. Isso explica, por exemplo, o esvaziamento de sua pasta, que já perdeu a Secretaria da Cultura para o Ministério do Turismo e pode perder a de Esporte. O Ministério da Cidadania corre o risco, inclusive, de deixar de existir – seria incorporado por Damares Alves, do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos – ou ser entregue à deputada Paula Belmonte (Cidadania-DF), mulher de Luís Felipe Belmonte, amigo de Bolsonaro e um dos principais financiadores do Aliança pelo Brasil.
No Congresso, a avaliação de parte da base aliada é que Osmar Terra, que também cuida de temas caros ao governo, como a política antidrogas e o projeto Pátria Voluntária, tocado pela primeira-dama Michelle Bolsonaro, é raso tecnicamente e entra em embates ideológicos para agradar ao presidente. No núcleo de Bolsonaro, o ministro é criticado pela ausência de entrega de resultados.
Emedebista, Osmar Terra também é uma espécie de herança do governo do ex-presidente Michel Temer, de quem foi ministro do Desenvolvimento Social.