O ex-presidente Jair Bolsonaro participa nesta semana de uma agenda de encontros no Rio de Janeiro que inclui compromissos de pré-campanha do deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) à prefeitura da capital fluminense.
A participação de Bolsonaro havia sido colocada em xeque após revelações no âmbito da operação da Polícia Federal, na última semana, que mira a existência de uma “Abin paralela” no antigo governo. Uma das descobertas das investigações foi um áudio clandestino no computador de Ramagem, no qual o ex-chefe do órgão discute com Bolsonaro e auxiliares a atuação de agentes da Receita Federal na investigação sobre o suposto esquema de “rachadinha” no gabinete do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) quando ele ainda era deputado estadual.
O áudio do encontro, que também teve o general Augusto Heleno (GSI), teria sido feito pelo próprio Ramagem, o que teria irritado Bolsonaro. As informações de que o ex-presidente manteve a agenda prevista para o Rio de Janeiro, principal reduto do clã, foram publicadas pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) nas redes sociais no mesmo dia da operação da PF.
Aliados ouvidos pela reportagem nesta segunda-feira, 15, confirmam que, mesmo com o entorno do ex-presidente contrariado com a gravação feita por Ramagem, estão mantidos ao menos dois encontros nos quais Ramagem estará presente. O primeiro deles é na quinta-feira, 18, na Praça Saenz Peña, na Tijuca, Zona Norte. Na sexta-feira, 19, Bolsonaro, Ramagem e a comitiva bolsonarista deverão participar de uma caminhada no Calçadão de Campo Grande, na Zona Oeste, um dos pontos de comércio popular de maior movimentação do Rio.
No mesmo dia, Bolsonaro também tem confirmados encontros em Itaguaí e Angra dos Reis. No sábado, 20, a agenda prevê compromissos em Niterói, na Praia de Icaraí.
Ramagem em situação difícil
A última pesquisa Datafolha sobre a disputa mostra que a candidatura de Ramagem terá vida difícil na capital fluminense — daí, pode-se dizer, a necessidade de centrar-se esforços em torno de seu projeto, independentemente das descobertas na investigação da PF. A sondagem mostra o atual prefeito Eduardo Paes (PSD) com 53% das intenções de voto, seguido por Tarcísio Motta (PSOL), com 9%. O ex-diretor da Abin aparece em terceiro, com 7%.
Investigação
O relatório da Polícia Federal que apura a existência de uma Abin paralela no governo Bolsonaro, tornado público pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, mostra fortes evidências de que o órgão comandado por Ramagem era o epicentro de um esquema criminoso de monitoramento ilegal de autoridades públicas, jornalistas e adversários políticos.
Um dos achados das investigações foi um áudio de uma reunião realizada em 25 de agosto de 2020 na qual Ramagem trata com o então presidente Jair Bolsonaro e o general Augusto Heleno, que era chefe do Gabinete de Segurança Institucional, sobre as “supostas irregularidades” cometidas por auditores da Receita Federal na confecção do Relatório de Inteligência Fiscal que deu origem à investigação contra o senador Flávio Bolsonaro pelo desvio de parte dos salários de funcionários da Alerj, quando ele era deputado estadual do Rio de Janeiro.
Ramagem negou “ilegalidade” no áudio e afirmou que o conteúdo da gravação apenas reforça a “defesa do devido processo, apuração administrativa, providência prevista em lei para qualquer caso de desvio de conduta funcional”.
A Polícia Federal afirma que na gravação, de uma hora e oito minutos, “é possível identificar a atuação de Ramagem indicando, em suma, que seria necessária a instauração de procedimento administrativo contra os auditores da Receita com o objetivo de anular a investigação, bem como retirar alguns auditores de seus respectivos cargos”.