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Por José Benedito da Silva Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
A política e seus bastidores. Com Laísa Dall'Agnol, Victoria Bechara, Bruno Caniato, Valmar Hupsel Filho, Isabella Alonso Panho e Ramiro Brites. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
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Damares e Bolsonaro quebram silêncio sobre calamidade dos ianomâmis

Ex-presidente diz que acusações de negligência são 'farsa da esquerda'; ex-ministra afirma que desnutrição de crianças indígenas é 'dilema histórico'

Por Laísa Dall'Agnol Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 24 jan 2023, 19h43 - Publicado em 22 jan 2023, 17h11

O ex-presidente Jair Bolsonaro e a ex-ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, quebraram o silêncio sobre o estado de emergência de saúde pública declarado sobre o território ianomâmi. Ambos estão sendo acusados de negligência ao povo indígena.

Os ianomâmis vivem uma crise sanitária que já resultou na morte de 570 crianças por desnutrição e causas evitáveis nos últimos anos. Técnicos do Ministério da Saúde estão na região desde a última segunda-feira, 16, e resgataram ao menos oito crianças da etnia em estado grave. No sábado, 21, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou a capital de Roraima, Boa Vista, onde está concentrada parte dos trabalhos de atendimento.

Em seu canal no Telegram, Bolsonaro classificou as críticas à assistência aos ianomâmis na sua gestão como “mais uma farsa da esquerda” e afirmou que, de 2020 a 2022, foram realizadas vinte ações de saúde que levaram “atenção especializada” a territórios indígenas. O ex-presidente declarou que o Ministério da Saúde, durante seu governo, realizou mais de 53 milhões de atendimentos de atenção básica aos povos tradicionais, e relembrou que a pasta atuou no combate à Covid-19 entre as tribos. Não mencionou, no entanto, a alarmante situação de desnutrição dos ianomâmis.

Em sua manifestação neste domingo, 22, Damares afirma que não houve omissão do governo Bolsonaro, época de sua gestão à frente do ministério, e declara que a política indigenista era executada de forma conjunta entre as pastas da Educação, Saúde e Justiça. Ao seu próprio ministério, afirmou, cabia receber denúncias de violações de direitos dos indígenas e encaminhá-las às autoridades responsáveis.

A senadora eleita pelo Distrito Federal diz que a pasta esteve no local “inúmeras vezes” para levantar informações, que enviou ofícios aos órgãos responsáveis e recebeu relatórios sobre as providências tomadas. Afirma, ainda, que o ministério entregou o Plano Nacional de Enfrentamento à Violência contra Crianças, que priorizou três áreas indígenas, entre elas, a área ianomâmi.

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Reportagem divulgada em agosto do ano passado pelo Intercept Brasil, no entanto, aponta que o governo Bolsonaro ignorou ao menos 21 pedidos formais de ajuda aos indígenas. Nos documentos encaminhados ao Ministério Público, à Funai e ao Exército, a Hutukara Associação Yanomami denunciou invasões de garimpeiros ao território indígena num contexto de conflitos que poderiam atingir a “proporção de genocídio”.

“Sesai e a Funai trabalharam muito no governo Bolsonaro, não houve omissão”, prossegue Damares. “A desnutrição entre crianças indígenas é um dilema histórico e foi agravada pelo isolamento imposto pela pandemia. Entre os anos 2007 e 2011, o Vale do Javari já tinha índices alarmantes”, diz a ex-ministra, fazendo menção a uma área que fica no oeste do estado do Amazonas, a mais de 1.000 quilômetros de distância do território ianomâmis.

“Sempre questionei a política do isolamento imposta a algumas comunidades. Está na hora de uma discussão séria sobre isso. Ao invés de perdermos tempo nessa guerra de narrativas e revanchismo, proponho um pacto por todas as crianças do Brasil, de todas as etnias”, finaliza a ministra em seu comunicado.

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