Contaminada pelo clima da eleição interna para o comando do partido, marcada para o próximo ano, a reunião da Executiva Nacional do PT realizada um dia depois do fechamento das urnas com o objetivo de fazer um balanço eleitoral teve troca de farpas e discussões exacerbadas por causa de entrevistas de petistas à imprensa e manifestações nas redes sociais.
Faltou, no entanto, um diagnóstico preciso sobre as eleições municipais, que ficou perdido entre teorias contraditórias. Houve quem tenha visto o copo meio cheio e criticou o “derrotismo” dos correligionários. Por outro lado, teve também quem enxergou um cenário ruim para o partido e atacou o outro grupo como “negacionistas eleitorais”.
Uma das avaliações que repercutiram no encontro na sede do PT em Brasília foi a do ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha. Em uma analogia com um campeonato de futebol, o articulador político do governo Lula afirmou que o PT não saiu da zona de rebaixamento nos pleitos municipais. “O PT é o campeão nacional das eleições presidenciais, mas, na minha avaliação, não saiu ainda do Z4 (zona de rebaixamento) que entrou em 2016 nas eleições municipais”, afirmou a jornalistas depois de sair de uma reunião com a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e Lula no Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência.
A resposta de Gleisi, que defende outra posição, veio por meio das redes sociais. “Temos que refrescar a memória do ministro Padilha, o que aconteceu conosco desde 2016 e a base de centro e direita do Congresso que se reproduz nas eleições municipais, que ele bem conhece”, disse a dirigente partidária. “Ofender o partido, fazendo graça, e diminuir nosso esforço nacional não contribui para alterar essa correlação de forças. Padilha devia focar as articulações políticas do governo, de sua responsabilidade, que ajudaram a chegar a esses resultados”, acrescentou.
A nota foi lida na reunião da Executiva Nacional do PT, sob aplausos. O governo Lula foi alvo de críticas contundentes no encontro. “O governo Lula também precisa melhorar, precisa ajeitar a política”, disse a VEJA o vice-presidente do partido, Washington Quaquá. “O governo precisa criar novas políticas. Nós estamos requentando pizza”, acrescentou.
Algumas pessoas que acompanharam a reunião consideraram o comentário de Padilha impróprio e até jocoso, em um momento que não é para brincadeiras. Outras acharam que a resposta de Gleisi foi feita em local inapropriado e fora do tom. O pano de fundo é uma disputa entre os petistas de São Paulo, como Padilha, que defendem a candidatura do prefeito de Araraquara (SP), Edinho Silva, para suceder Gleisi. A presidente do partido é entusiasta da candidatura do deputado cearense José Guimarães para a direção do PT.
Apesar de disputarem o comando do partido, ambos fazem parte da corrente majoritária petista que se reuniu na terça-feira, 29. Além das duas candidaturas, outros nomes devem ser sugeridos – agora, os líderes regionais são consultados sobre nomes que querem concorrer. A ideia de Gleisi é achar um nome único até junho do próximo ano, quando ocorrerá a troca no comando da legenda.
Para além das cotoveladas públicas e disputas internas, um diagnóstico mais preciso foi deixado de lado. O deputado estadual paulista Emídio de Souza perdeu a eleição para prefeito em Osasco e disse que os diretórios municipais estão desestruturados. “Tem diretórios, mas o funcionamento é precário”, disse a VEJA. “Tem muita fragilidade, trabalho insuficiente, formação política insuficiente, pouca presença em movimentos sociais, em fiscalizar as cidades, em fazer oposição”, acrescentou.
A avaliação mais otimista afirma que o PT teve sucesso, considerando as vitórias dos partidos que compõem a frente ampla de sustentação ao governo Lula. Alguns quadros, como o ministro-chefe da Secom, Paulo Pimenta, dizem que o partido conseguiu cumprir um dos objetivos do pleito, que era combater os candidatos da extrema direita.
Um diagnóstico mais preciso deve ficar para a próxima reunião mais ampla do PT. O Diretório Nacional se reúne em 7 de dezembro. Nesta data, a expectativa é a de que um texto com o balanço eleitoral seja publicado.