Considerado foragido pela Justiça brasileira, o caminhoneiro Marcos Antônio Pereira Gomes, o Zé Trovão, está no México. Uma das lideranças da paralisação da categoria que pressiona pela saída de ministros do Supremo Tribunal Federal, ele afirmou aguardar um posicionamento do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para que decidir pela suspensão dos atos que atinge 15 estados.
De um hotel na Cidade do México, onde foi localizado pela reportagem, o caminhoneiro reafirmou ser vítima de uma injustiça — ele é investigado em um inquérito que apura a organização de atos contra o STF, relatado por Alexandre de Moraes, que decretou sua prisão. “Eu não recebi nenhum mandado, nem meus advogados tiveram acesso ao processo. Ninguém nem pediu para eu comparecer na Polícia Federal. Então, não estou foragido”, afirmou a VEJA.
A reportagem apurou que o caminhoneiro está no país desde o final do mês passado — Zé Trovão, portanto, já estava fora do Brasil quando o STF emitiu uma ordem prisão contra ele no dia 3 de setembro. Naquele dia, ao participar de uma live com apoiadores bolsonaristas de dentro de uma cafeteria na capital mexicana, ele confirmou a decretação da prisão.
A VEJA, ele afirmou ter solicitado asilo ao México e que se sentia seguro no país. Entretanto, momentos depois de conversar com a reportagem, Zé Trovão tornou público seu paradeiro em um vídeo enviado por aplicativos de mensagem e disse que estaria prestes a ser preso. “A embaixada brasileira acaba de entrar em contato com o hotel onde eu estou. Provavelmente serei preso.”
Leia a entrevista
O que é preciso para suspenderem a paralisação? Estou aguardando o presidente fazer um pronunciamento. Informações que nos foram passadas é que ele emitiu um áudio para os caminhoneiros voltarem a trabalhar porque senão ia quebrar o Brasil. Então faz um vídeo com dia e hora e diz que é para parar. Vamos passar para as bases e ver se todo mundo concorda.
O Bolsonaro te decepcionou? Eu não tenho decepção com o ser humano, com pessoas. Eu só quero que meu país funcione bem. Se como chefe de Estado ele acha que é prejudicial os caminhoneiros continuar parados, a gente vai abrir um diálogo e voltar a trabalhar. Mas tem que abrir um diálogo. Não é simplesmente mandar um áudio que ninguém sabe se é dele.
Como seria esse diálogo? O senhor fala com ele? Como eu vou poder conversar com o presidente se eu tenho uma ordem restritiva? Se ele quer ter dialogo, ele pode falar com nossos representantes que estão aguardando hoje para conversar com ele.
O que vocês precisam ouvir do presidente? Que ele vai resolver o problema do Brasil. Ele tem que resolver o problema da injustiça que o Alexandre de Moraes está fazendo com todo mundo, censurando pessoas e mandando prender inocentes. Isso tudo tem que acabar. Se o presidente garantir pro povo brasileiro que ele vai tomar as ações cabíveis, que a coisa vai funcionar do jeito certo, ninguém quer criar caos no país. Mas tem que ter decência.
Quais são essas ações cabíveis? O que nós queremos é o impeachment dos ministros. Precisamos colocar ordem na Justiça brasileira. O Bolsonaro está sendo atacado. Então quem está arrebentando a corda? Ele simplesmente está falando que o que o Alexandre de Moraes está fazendo é inconstitucional. Meu direito é resguardado pela lei como o de qualquer cidadão brasileiro.
Pretende pedir asilo ao México? Já pedi. Estou aguardando o retorno, mas já estou assegurado. O processo foi aberto e, enquanto eu estiver aqui, passando por esse processo, ninguém pode fazer nada.
O senhor se sente seguro aí? Eu me sinto seguro porque pelo menos aqui eu estou recebendo refúgio, coisa que não está acontecendo no meu país.