Em São Paulo, Lula tenta colar imagem de ‘pai de família’ a Boulos
Presidente participou de dois comícios com o deputado do PSOL que disputa as eleições municipais na capital paulista
O presidente Lula esteve, neste sábado, 24, em dois palanques de Guilherme Boulos (PSOL) em São Paulo. Pela manhã, no Campo Limpo, o evento foi direcionado à população da Zona Sul. Pela tarde, com cerca de duas horas de atraso, iniciou um comício em São Miguel Paulista, na Zona Leste da capital. Em apoio ao psolista, o presidente levou quatro ministros à capital paulista, criticou adversários na disputa paulistana e pintou a figura de “pai de família” ao candidato do PSOL, que frequentemente é lembrado como um radical pelo seu passado nas manifestações do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto.
Em São Miguel Paulista, o petista se abraçou na esposa de Boulos, Natalia Szermeta, para lembrar do histórico do candidato psolista, que negou o conforto de uma família da classe média paulistana para viver na periferia. “Essa menina convenceu ele a deixar o centro e morar na periferia de São Paulo para ele conhecer como é que vivem os milhões de invisíveis neste país”, disse Lula. Pela manhã, no Campo Limpo, bairro onde o psolista vive, o presidente fez uma referência às duas filhas de Boulos: “Você tem que cuidar de São Paulo como você cuida de suas meninas, como você cuida da sua família, com carinho, com respeito”.
Mesmo quando se referiu ao passado de Boulos no MTST, Lula fez questão de deixar marcada a capacidade de diálogo do psolista, que foi preso três vezes em manifestações – fato que é usado pelos adversários na disputa eleitoral. “Eu conheci o Boulos fazendo protesto em frente ao meu apartamento em São Bernardo do Campo, em 2005”, contou Lula. “Quem é esse moleque que está na porta do presidente falando desaforo para o presidente? Ao invés de ficar nervoso, nós conversamos e eu passei a conhecer a qualidade de militância política do companheiro Boulos”, acrescentou.
Durante a ida a São Paulo, Lula fez gravações para o programa eleitoral de Boulos. Já no dia 30, estreia do horário dedicado às eleições na televisão, o presidente deve aparecer na casa do psolista com objetivo de retirar a pecha de radical e ligá-lo à imagem de um homem ligado à família. O objetivo é ampliar a base de paulistanos que votaram no petista e irão apoiar Boulos nas urnas – segundo levantamento do instituto Datafolha, divulgado na quinta-feira 22, 44% dos eleitores que votaram em Lula irão votar em Boulos –, além de tentar reduzir o estrago causado pelas acusações, sem provas, de Pablo Marçal (PRTB) de que o psolista seria um usuário de drogas, que nunca trabalhou.
Críticas aos adversários
Os palanques também serviram para atacar os adversários. No comício da Zona Leste, Boulos criticou o atual prefeito. “O Ricardo Nunes está há três anos e meio. E sabe o que ele fez? O legado dele? Pior do que nada”, disse o candidato do PSOL sobre o emedebista, mas Marçal foi o alvo preferencial das críticas, chamado de “aquele sujeito” pelo ministro da Fazenda ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad.
“A concorrência está muito fraca”, afirmou Haddad. “Nós vamos ter condições de discutir ideias para São Paulo e aí, aquele sujeito que quer fazer prédio de 1.000 metros de altura, teleférico… Nós temos que entender um fenômeno: você já percebeu, Boulos, que todo o mau caráter quer se passar por louco? Mas não deixa de ser mau caráter”, acrescentou o ex-prefeito.
Marina Silva fez uma referência indireta à tática agressiva do coach para se esquivar de discussões mais urgentes. “Essas pessoas têm estratégia muito simples, ao invés de debater o problema da mudança climáticas, essas pessoas ficam na lógica da desqualificação”, disse a ministra do Meio Ambiente. Além de Marina e Haddad, os ministros Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário) e Silvio Almeida (Direitos Humanos) também compuseram o palanque de Boulos.
Lula comparou o coach a uma “raposa no galinheiro” e lembrou dos ex-presidentes Jânio Quadros e Fernando Collor de Mello, que usaram a imagem do anti-político para se eleger e não conseguiram terminar seus mandatos à frente da Presidência da República.
“Eu estou vendo a campanha agora e estou vendo algumas pessoas dizerem: ‘eu não sou da política, aquele não presta, aquele é ladrão. Eu não sou da política. Vote em mim porque eu não sou da política. Eu sou honesto’”, afirmou Lula. “Jânio Quadros dizia isso e só durou seis meses na Presidência da República, o Collor de Mello dizia isso e só durou dois anos na Presidência da República”.
Já a candidata a vice-prefeita, Marta Suplicy, lembrou do influenciador digital e pôs em xeque a credibilidade do candidato do PRTB. “Nós não queremos digital. A gente quer gente como a gente, a gente quer gente de verdade”, afirmou a ex-prefeita.