Exonerado na semana passada em meio à crise em torno do leilão para importação de arroz, o ex-secretário de Polícias Agrícolas do Ministério da Agricultura Neri Geller deixou claro, nesta terça-feira, 18, sua contrariedade com o titular da pasta, Carlos Fávaro, no processo que resultou em seu afastamento. “Eu não devo, por isso fiquei chateado com o ministro da Agricultura quando da forma como saí do governo”, disse.
O ex-secretário disse, no entanto, que é legítimo o governo ter decidido pelo seu afastamento para que ele explicasse os questionamentos feitos em relação ao leilão. O certame para o primeiro lote, de 300 mil toneladas, foi cancelado na semana passada em meio a suspeitas de fraude e favorecimento pessoal após tornarem públicas informações de que as empresas vencedoras do certame não tinham expertise na área e a corretora responsável pelo leilão pertence a um ex-assessor de Geller.
Neri Geller participa como convidado da Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara, que realiza sessão nesta terça-feira, 18, para discutir a necessidade de importação de um milhão de toneladas de arroz, como quer o governo. O ministro Carlos Fávaro será ouvido nesta quarta-feira, 19.
Ao fazer sua explanação, o ex-secretário voltou a negar qualquer irregularidade no leilão. Afirmou que o empresário Robson Luiz de Almeida França, dono de duas empresas que intermediaram o leilão de 44% do arroz importado, não era seu assessor desde 2020 e já tinha participado de certames antes mesmo de ele assumir a secretaria.
Geller disse também que não houve má-fé na decisão do governo de importar arroz, mas, segundo ele, houve um “equívoco político”. E procurou se distanciar da decisão pela importação que, segundo ele, deve ser creditada à Casa Civil.
Ele relatou que assumiu a secretaria em dezembro passado e, em janeiro, foi chamado para discutir o preço do arroz que, naquele momento, já estava “fora da curva” e era um dos elementos que contribuíam para a alta da inflação. Geller afirmou que, naquele momento, descreveu um quadro em que 78% da produção se encontrava no Rio Grande do Sul e que a região Centro-Oeste tinha projeção de crescimento de 30% da produção.
Após as enchentes que assolaram o Rio Grande do Sul, no entanto, houve a preocupação em relação às condições do arroz colhido e armazenado no Estado, e sua infraestrutura para escoar a produção. Além disso, segundo ele, houve um “ataque especulativo” de outros países que contribuiram para o aumento do preço do produto.
Geller relatou que propôs ao governo a suspensão da cobrança da Taxa Externa Comum, de importação, para estimular a entrada de arroz se a logística gaúcha não fosse recuperada e, em caso de necessidade, promover um leilão para importação de 100 mil toneladas. “Fomos voto vencido”, disse. Segundo ele, a decisão foi de fazer um edital para compra de 300 mil toneladas de arroz. “A partir daí participamos muito pouco e fui cuidar do Plano Safra”, disse.
Embora aponte equívoco político, Geller defende a decisão do governo de importar arroz. Segundo ele, é legítimo o governo se preocupar com o aumento da inflação, ainda mais uma gestão preocupada em garantir alimentos da cesta básica a preços acessíveis. “A inflação era um calo e era puxada principalmente por arroz”, disse. Mas ressaltou que, nas reuniões, sempre deu total segurança que que nao haveria desabastecimento. E fez um gesto para a bancada ruralista. “Era hora de aproveitar janela de oportunidade para alavançar a produção nacional”, disse.