Gleisi diz que alta da taxa Selic é ‘incompreensível’, mas poupa Galípolo
Postura de petista como ministra de Lula é bem diferente do tratamento dado ao antecessor no BC, Roberto Campos Neto, quando ela era presidente do PT

A ministra-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, publicou nesta quinta-feira, 19, em suas redes sociais uma crítica ao aumento de 0,25 ponto percentual na taxa Selic, que chega a 15%, sem citar o nome do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o posto.
“No momento em que o país combina desaceleração da inflação e déficit primário zero, crescimento da economia e investimentos internacionais que refletem confiança, é incompreensível que o Copom aumente ainda mais a taxa básica de juros. O Brasil espera que este seja de fato o fim do ciclo dos juros estratosféricos”, afirmou a ministra, que é a articuladora política do governo junto ao Congresso Nacional.
No momento em que o país combina desaceleração da inflação e déficit primário zero, crescimento da economia e investimentos internacionais que refletem confiança, é incompreensível que o Copom aumente ainda mais a taxa básica de juros. O Brasil espera que este seja de fato o fim…
— Gleisi Hoffmann (@gleisi) June 19, 2025
O tom usado por Gleisi é bem diferente do tratamento para o antecessor no comando do Banco Central, Roberto Campos Neto, que era o principal alvo da então deputada federal pela crise econômica. Em 2024, quando o dólar bateu em 6 reais, a petista afirmou que o “BC de Campos Neto não fez nada para conter a especulação”. “Era obrigação da ‘autoridade monetária’ intervir no mercado contra a especulação desde seu previsível início, com leilões de swap, exigência de depósitos à vista e outros instrumentos que existem para isso. É um crime contra o país”, disse à época.
Depois de cinco anos no cargo, Campos Neto deixou o BC no final de 2024. Seis meses depois, os dados econômicos continuam a desgastar o governo Lula.
Logo após o anúncio do aumento da Selic, na quarta-feira, 18, o deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ), líder do governo na Câmara, também disparou contra a medida. “Não dá pra aceitar como normal o novo aumento da Selic pelo Banco Central. A taxa de 15% é indecente, proibitiva e desestimula investimentos produtivos. É a transformação do Brasil no paraíso dos rentistas: quem vive de juros ganha, quem trabalha perde. Falam muito de ajuste fiscal e da dívida pública. Mas o crescimento da dívida não vem dos programas sociais com saúde ou educação — vem do pagamento de juros”, disse.
Mais cedo, ao anunciar o reajuste, nota do Banco Central apontou os motivos para o aumento. “O ambiente global permanece adverso e particularmente incerto devido à política econômica e às perspectivas econômicas dos Estados Unidos, principalmente no que diz respeito às suas políticas comerciais e fiscais e seus efeitos. Além disso, o comportamento e a volatilidade de diferentes classes de ativos também foram impactados, alterando as condições financeiras globais. Esse cenário continua exigindo cautela das economias de mercados emergentes em meio à escalada das tensões geopolíticas”, diz trecho do comunicado.
Em relação ao cenário doméstico, o conjunto de indicadores de atividade econômica e mercado de trabalho “ainda apresenta alguma robustez, embora observemos alguma moderação no crescimento. Em divulgações recentes, a inflação geral e as medidas de inflação subjacente permaneceram acima da meta de inflação”. As expectativas de inflação para 2025 e 2026 coletadas pela pesquisa Focus permaneceram acima da meta de inflação, em 5,2% e 4,5%, respectivamente.