Governo Lula processa a Meta por lucrar com anúncios de golpes
Relatório da UFRJ aponta quase 2.000 fraudes praticadas no Facebook e Instagram com marcas do Planalto e deepfakes de políticos

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva está processando a Meta, controladora das redes sociais Facebook e Instagram, por permitir anúncios de golpes virtuais com uso de símbolos governamentais oficiais e inteligência artificial. Movida pela Advocacia-Geral da União (AGU), a denúncia pede a condenação da empresa por enriquecimento ilícito e danos morais coletivos.
Na ação apresentada à Justiça Federal na última segunda-feira, 28, a AGU acusa a Meta de ignorar, voluntariamente, a ilegalidade de publicações pagas com o objetivo de enganar usuários, aplicar golpes financeiros e promover desinformação sobre medidas do governo. Em geral, as postagens alegavam que o cidadão teria direito a receber dinheiro de programas federais de assistência social, contanto que pagasse uma taxa para liberar os valores.
“A política de verificação de anúncios das plataformas do réu é absolutamente ineficiente […] não resta a menor dúvida quanto ao patrocínio/impulsionamento da publicidade enganosa em xeque, vez que, conforme relatado, foram todos extraídos da ‘Biblioteca de Anúncios da Meta'”, argumenta a AGU em trecho da denúncia. A ação será julgada pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), em Brasília.
Golpistas exploraram crise do Pix
A denúncia da AGU se baseia em um relatório produzido pelo NetLab, grupo de pesquisa digital da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que identificou ao menos 1.770 publicações fraudulentas impulsionadas na plataforma de anúncios da Meta entre 10 e 21 de janeiro de 2025. Segundo a pesquisa, mais de mais de 95% dos anúncios prometiam que o usuário teria direito a saques ou valores a receber da União, citando tanto programas reais quanto fictícios do governo.
Uma das técnicas adotadas pelos golpistas foi o uso de “deepfakes” — simulações de pessoas reais por meio de inteligência artificial — do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), que virou “garoto-propaganda” de vídeos falsos que anunciavam falsos valores a receber pelos usuários, a partir do número de seus CPFs. De acordo com o NetLab, quase um terço dos anúncios falsos usavam reproduções forjadas do rosto do parlamentar.
O relatório indica que a prática disparou em meio à crise envolvendo as mudanças no Pix anunciadas (e revogadas) pelo governo federal em janeiro, episódio em que Nikolas ganhou engajamento massivo nas redes sociais por, supostamente, “desmascarar” taxas sobre o sistema de pagamentos. Em março, o parlamentar acionou a Polícia Federal para investigar a falsidade ideológica com sua imagem.
