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Por José Benedito da Silva Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
A política e seus bastidores. Com Laísa Dall'Agnol, Victoria Bechara, Bruno Caniato, Valmar Hupsel Filho, Isabella Alonso Panho e Ramiro Brites. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.

Guerra ideológica tumultua a eleição do maior conselho de medicina do país

Quase 600 mil médicos escolhem seus representantes em campanha marcada pela militância política, especialmente do bolsonarismo, e pela pauta de costumes

Por Ramiro Brites Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 6 ago 2024, 10h48 - Publicado em 6 ago 2024, 09h40

Quem acompanha de perto as eleições do Conselho Federal de Medicina (CFM) afirma presenciar uma das disputas mais politizadas da história da entidade de classe, que completará 73 anos em setembro. As campanhas têm debatido temas polêmicos que extrapolam o universo médico e repercutem no mundo político dentro da chamada “agenda de costumes”. A eleição do CFM retomou discussões em torno do programa Mais Médicos, da obrigatoriedade de vacinação durante a pandemia de Covid-19 e a legislação sobre o aborto.

Além do debate ideológico, disparos de mensagens em massa, pedidos de investigação na Polícia Federal, divulgação de pesquisas suspeitas de intenção de voto e tentativas de impugnação de candidaturas — artimanhas já costumeiras no mundo político — têm sido usados na disputa por um lugar de representante dos médicos.

Quase 600 mil médicos estão aptos a votar em dois dias, sendo que o voto é opcional para profissionais inscritos no Conselho Regional de Medicina com mais de 70 anos e vetado a médicos que atuam apenas na área militar. As eleições iniciam nesta terça-feira, 6, e se encerram na quarta-feira, 7. A votação é online, das 8h às 20h. Cada estado brasileiro e o Distrito Federal irá eleger dois representantes regionais (um titular e um suplente), totalizando 54 eleitos que irão compor o Conselho, com mais dois nomes indicados pela Associação Médica Brasileira.

Disputa em SP vai de apoio político à denuncia na PF

As campanhas envolveram candidatos às eleições municipais deste ano e invocaram os nomes de agentes públicos e políticos. Nas redes sociais, uma montagem mostra o médico Francisco Cardoso, titular da chapa 2 em São Paulo, ao lado do ex-ministro de Jair Bolsonaro, Marcelo Queiroga, do deputado bolsonarista Nikolas Ferreira e do empresário Luciano Hang. O ex-deputado estadual, Douglas Garcia, foi às redes sociais pedir voto a Cardoso.

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Já a deputada Carla Zambelli (PL) declarou apoio a Armando Lobato, da chapa 1, nas eleições paulistas. Nos comentários da publicação de Zambelli, fica evidente a divisão com os bolsonaristas, que declaram que irão apoiar Francisco Cardoso.

Em outro polo, a médica Melissa Palmieri ganhou o apoio de Luana Araújo, infectologista que teve destaque na atuação contra o governo Bolsonaro na CPI da Pandemia. Palmieri é apoiada pela Associação Brasileira de Médicas e Médicos pela Democracia (ABMMD), que lançou, em abril, um movimento específico para a disputa pelo Conselho Federal de Medicina denominado “Muda CFM”.

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“A emergência da Pandemia por Covid -19 explicitou a existência de uma parcela da categoria médica pautada pela negação da ciência e das evidências científicas, que tenta justificar condutas absolutamente questionáveis com argumentos enviesados, tais como a defesa de um modelo de “autonomia médica” individual, baseada em crenças e propagadas no meio digital, alienada da segurança dos pacientes e dos princípios éticos que são a base da Medicina”, escreveu a Associação no manifesto lançado para a eleição de classe.

A disputa pela vaga de conselheiro em São Paulo foi parar na Polícia Federal. Disparado em massa, um SMS dizendo que as chapas 1, 3 e 4 votaram no “L(13)”, em referência ao presidente Lula, sendo a chapa 2 a “única chapa anti-(L 13)” foi o centro do imbróglio. O CFM acionou a PF para investigar o caso. Cardoso negou ao jornal Gazeta do Povo que era o responsável pela mensagem de texto e disse que o conteúdo partiu de opositores, com o intuito de criminalizá-lo.

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Mensagem de texto disparada a médicos gerou troca de acusações. (./Reprodução)
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Tentativa de impugnação no DF

No Distrito Federal, a maior polêmica girou em torno de uma pesquisa de intenção de votos. A chapa 3, formada por Farid Buitrago e Isadora Calvo, denunciou a chapa 1, de Rosylane Rocha e Sérgio Tamura, por supostamente divulgar um levantamento falso nas redes sociais.

O registro chegou a ser suspenso no sábado, mas a Comissão Nacional Eleitoral do CFM recuou e negou a cassação da chapa na noite de domingo, 4. A titular da chapa denunciada, Rosylane Rocha, é a atual vice-presidente do Conselho Federal de Medicina.

Ainda no Distrito Federal, uma resolução da Comissão Regional Eleitoral proibiu a veiculação de entrevistas com candidatos em sites. A decisão suscitou uma nota da Federação Nacional de Jornalistas que critica “o cerceamento da liberdade de expressão durante a campanha para a escolha dos Conselheiros Federais”.

Além de limitar a liberdade de expressão, a resolução reduz a visibilidade de candidatos e limita o acesso a veículos de comunicação exclusivamente digitais, já que a decisão Interfere indevidamente no direito que os veículos têm de definir por qual mídia a entrevista dada será veiculada”, diz a Fenaj.

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