Ianomâmis: relatório aponta ‘omissão criminosa’ de ministério de Damares
Levantamento preliminar divulgado pelo atual Ministério dos Direitos Humanos aponta que pasta agiu com negligência na assistência aos indígenas
Comandado por Damares Alves, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH) do governo Jair Bolsonaro agiu com “omissão criminosa” na preservação de direitos do povo ianomâmi, aponta relatório divulgado nesta segunda-feira, 30.
O levantamento, ainda preliminar, foi feito pelo atual Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) e revela violações observadas entre os anos de 2019 e 2022. Entre as conclusões, o estudo mostra que, além de ignorar recomendações internacionais no âmbito da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, a pasta teve conduta de descaso frente a processos a ela encaminhados por órgãos como o Ministério Público Federal e a ONU (Organização das Nações Unidas).
O documento, que reúne sete processos administrativos de conhecimento do então ministério chefiado por Damares, foi encaminhado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, para investigação dos fatos. A iniciativa também implicará na eventual responsabilização de agentes que promoveram ações deliberadas contra a dignidade humana na gestão passada, afirma o atual MDHC.
Entre os fatos citados, o relatório aponta que o governo anterior ignorou a morte de um ianomâmi vítima de Covid-19, em abril de 2020, e que, ao invés de apurar as condições sanitárias do povo indígena, reduziu o problema a uma questão que deveria ser resolvida apenas pela Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) e pela Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena).
O documento afirma que, em 2020, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos demonstrava preocupação frente às invasões do Território Indígena Yanomami por garimpeiros, nos estados de Roraima e Amazonas. Em resposta, descreve o levantamento, o ministério apresentou à instância internacional um parecer positivo sobre o Projeto de Lei nº 191/2020, que propunha a legalização do garimpo na região. À época, diz o atual ministério, a antiga pasta pormenorizou denúncias de violações de direitos humanos causadas pelos garimpeiros na comunidade ianomâmi, reduzindo o debate a “oposições políticas”.
Outro ponto citado é que o antigo MMFDH, diante de uma Ação Civil Pública destinada ao fornecimento de alimentação adequada e saudável aos pacientes em tratamento médico e acompanhamento nutricional aos ianomâmis, preferiu “terceirizar” a responsabilidade a outros órgãos do governo.
Assistência
Pedidos de assistência ao território indígena durante a pandemia também foram negados, com a cooperação do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, diz o relatório divulgado nesta segunda-feira. O documento preliminar também aponta sugestão de veto à obrigação do fornecimento de água e equipamentos básicos aos ianomâmi durante o período de crise sanitária da Covid-19, bem como ausência de planejamento assistencial em favor de crianças e adolescentes indígenas no Plano Nacional de Enfrentamento da Violência contra Crianças e Adolescentes.
“Entre 2019 e 2022, gestores públicos estiveram por cinco vezes no estado de Roraima. Entretanto, em nenhuma dessas missões foram apresentadas tratativas contra o garimpo ilegal, a segurança alimentar do povo indígena que vive naquela região ou qualquer outra ação em defesa dos direitos humanos. Nenhuma visita foi feita ao território Yanomami, mesmo diante de denúncias e recomendações em prol da dignidade humana dos povos originários”, aponta o relatório.