Líder do governo tenta no STF afastar delegado e enterrar apuração da PF
Deputado Ricardo Barros usa depoimento de desafeto para tentar tirar do seu encalço o delegado responsável pela Operação Pés de Barro
Líder do governo na Câmara, o deputado federal Ricardo Barros (PP-PR) vê no Supremo Tribunal Federal (STF) o caminho para enterrar uma investigação da Polícia Federal que o incomoda. Barros acionou a Corte por meio de um habeas corpus para afastar o delegado da PF José Augusto Campos Versiani, responsável pela Operação Pés de Barro, que apura fraudes na compra de medicamentos de alto custo durante a gestão do deputado no Ministério da Saúde do governo Michel Temer, entre 2016 e 2018.
Deflagrada em setembro de 2021, a operação da PF mira favorecimento à empresa Global Gestão em Saúde durante a passagem de Barros pela pasta, que teria deixado um prejuízo de 20 milhões de reais. A Global é controlada pelo empresário Francisco Emerson Maximiano, mesmo dono da Precisa Medicamentos, que no governo Bolsonaro seria a intermediária de um contrato do Ministério da Saúde para compra da vacina indiana Covaxin. A aquisição do imunizante contra a Covid-19 acabou suspensa e cancelada diante de suspeitas de irregularidades, investigadas pela CPI, que apurou a relação entre Ricardo Barros e as empresas de Maximiano.
O argumento da defesa de Barros ao Supremo não deixa de ser curioso. A alegação é a de que Versiani é parcial e persegue o líder bolsonarista na Câmara, com base em um depoimento à PF do deputado Luís Miranda (DEM-DF), desafeto de Barros que denunciou o caso Covaxin e lançou suspeitas sobre o líder do governo. Na oitiva, Miranda disse que o delegado Versiani afirmou ao seu irmão, Luís Ricardo Miranda, servidor do Ministério da Saúde, que iria “prender todo mundo” na mira da apuração da Operação Pés de Barro.
Usando as declarações de Luís Miranda, os advogados de Ricardo Barros sustentam que o delegado está “comprometido” em “investigar e atribuir conduta delitiva” ao deputado do PP. Até o nome da operação, possível referência ao nome do parlamentar, é apontado como indicativo de que a investigação está direcionada a prejudicá-lo.
“As palavras expressadas pelo Delegado maculam o procedimento administrativo de infâmia tendenciosa que se espraia pela investigação”, argumenta a defesa, que também aponta o comprometimento das provas recolhidas na apuração e pede seu arquivamento.
O responsável por decidir o pedido de Ricardo Barros é o ministro Alexandre de Moraes.