‘Não podemos mais aceitar má vontade do Ibama’, diz governador do Amapá
A VEJA, Clécio Luís afirma que estado é exemplo de preservação ambiental e tem o direito de explorar petróleo com responsabilidade

Para o Amapá, o plano da Petrobras para explorar petróleo na margem equatorial brasileira representa uma oportunidade econômica sem precedentes, diz o governador do estado, Clécio Luís (Solidariedade). O plano da estatal é começar a extração na região do Oiapoque, em um poço situado a cerca de 160 quilômetros da costa amapaense e 500 quilômetros da foz do Rio Amazonas — a operação, contudo, depende de uma licença ambiental do Ibama que ocupa o centro de uma crise interna no governo federal.
O governador afirma que o estado é referência nacional em energia limpa e preservação da Amazônia, e defende que os amapaenses têm direito a investir os ganhos do petróleo no desenvolvimento da economia que, ainda hoje, é profundamente dependente de auxílio federal. “Não podemos mais aceitar má vontade do Ibama”, diz a VEJA. “Nós fizemos o dever de casa sobre a proteção ambiental e exigimos o direito a explorar nossos recursos.”
Na avaliação de Clécio, a Petrobras já apresentou as garantias necessárias para as atividades preliminares de pesquisa na costa, e o governo estadual trabalha alinhado às autoridades federais e locais para preparar a economia amapaense para receber o faraônico projeto energético. “A mensagem que o Amapá passa hoje é de que quem desmatou ficou rico e quem preservou está na pobreza, e precisamos mostrar que vale a pena a exploração sustentável”, declara.
Entrevista com Clécio Luís, governador do Amapá
Qual é o potencial de desenvolvimento e riscos à região com a chegada da Petrobras à margem equatorial? É preciso entender um pouco da história do Amapá. Quando o território foi criado em 1943 para a exploração de manganês, toda a estrutura era completamente bancada pelo governo federal, e essa dependência da União continua até hoje. Temos o estado mais preservado do Brasil, com cerca de 95% da floresta intacta, demarcamos todas as nossas terras indígenas sem conflitos, e ao mesmo tempo estamos com péssimos indicadores sociais. Não há nada mais insustentável do que isso. O petróleo abre uma nova matriz econômica, e nós fizemos o dever de casa da proteção e exigimos o direito a explorar nossos recursos.
Como o Amapá está se preparando para receber o projeto? Já estamos realizando estudos sobre as profissões que precisaremos capacitar, os segmentos econômicos que surgirão, os fornecedores de bens, insumos e serviços de que a Petrobras precisará e um plano de governança. Estudando as questões das cidades que cresceram com o pré-sal, precisamos planejar: onde investiremos os royalties do petróleo nos próximos três, cinco, dez anos? Quanto vai para pesquisa, infraestrutura, apoio às comunidades indígenas e ribeirinhas do Oiapoque? Precisamos dar esta resposta à sociedade, não queremos que a região entre em decadência quando a produção de petróleo começar a recuar.
Como está ocorrendo a articulação política do estado com o governo federal, prefeitos e a população? O projeto é muito bem recebido por todos, inclusive pelas comunidades locais. Talvez seja o tema de maior consenso no Amapá, a ideia de explorar sabendo que há riscos, sem abrir mão dos indicadores ambientais. Essa licença já deveria ter sido expedida há muito tempo — a última exigência para a Petrobras era a unidade de proteção e despetrolização da fauna, que já está avançando. Não podemos mais aceitar má vontade do Ibama, esperamos que a licença seja concedida em março.
Mesmo com este consenso político, existem resistências por parte da sociedade civil e ONGs. Há diálogo com os opositores ao projeto? Nós tratamos toda resistência com muito respeito e não houve conflitos. Recebemos críticas e sabemos que é preciso ouvir os pontos importantes e ponderar o que pode ser aperfeiçoado. O que se vê, porém, é realmente a construção de um forte consenso a favor da exploração do petróleo. Eu defendo a descarbonização da economia, entendo que o mundo inteiro precisa fazer transição energética, e o Amapá está extremamente avançado nisso. Toda a nossa energia vem de fontes limpas e somos o único estado carbono negativo do Brasil, que capta mais carbono do que emite. Enquanto o mundo fala em transição, já estamos discutindo a diversificação da energia.