‘O governo brasileiro não é só o Executivo’, diz Lira em carta à China
Aliado de Bolsonaro, presidente da Câmara tenta se desvincular do Planalto para buscar aproximação e ajuda da China com a pandemia
O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou em carta enviada à Embaixada da China nesta terça-feira, 9, na qual pede ajuda do país oriental no combate à pandemia da Covid-19, que “o governo brasileiro não é só o Executivo” — ele também participou de uma videoconferência com o embaixador chinês, Yang Wanming, para quem destinou a correspondência. Lira tentou mostrar um distanciamento do presidente Jair Bolsonaro, de quem é aliado e de quem recebeu um significativo apoio durante a eleição para presidir a Casa.
O deputado ressaltou que o governo brasileiro também é composto pelo Legislativo e pelo Judiciário, deixando claro o desejo de estabelecer uma relação diplomática mais próxima com a China, país que sofreu várias críticas de Bolsonaro, de seus filhos, de aliados e até de ministros importantes do governo, como o chanceler Ernesto Araújo e o ex-ministro da Educação Abraham Weintraub. “Como presidente da Câmara, gostaria de reafirmar os compromissos permanentes com o governo da República Popular da China”, escreveu Lira.
“Os interesses permanentes dessas duas grandes nações nunca foram nem poderão ser afetados pelas circunstâncias, pelas ideologias, pelos individualismos”, afirmou, em outra referência à oposição ideológica do bolsonarismo à China, que tem um regime comunista. “O Brasil respeita a China”, acrescentou o presidente da Câmara.
Mesmo os países sendo grandes parceiros comerciais, Bolsonaro já chegou a chamar, em mais de uma oportunidade, a Covid-19 de “vírus chinês” e desacreditou a eficácia da CoronaVac, desenvolvida por uma farmacêutica do país, a Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan, de São Paulo.
O filho do presidente e deputado-federal, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que presidia a Comissão de Relações Exteriores da Câmara, já teve desavenças com Yang Wanming. O parlamentar publicou em sua conta no Twitter que a China tinha “culpa” pela pandemia. O embaixador, em resposta, repudiou o post, exigiu um pedido de desculpas e disse que manifestaria a sua indignação junto Itamaraty.
Na carta, Lira pediu ao governo chinês “um olhar amigo, humano, solidário” e ajuda para “superar a pandemia, oferecendo os insumos, as vacinas, todo o apoio que este grande parceiro precisa da China neste grave momento”. O deputado disse que o Brasil precisa de uma imunização em massa e que, para isso acontecer, é necessário ter acesso a todas as vacinas produzidas no mundo.