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Para fugir do escândalo da Universal, Bolsonaro envia Mourão a Angola

Imprensa estatal de Angola chegou a divulgar que o presidente iria ao encontro da comunidade dos países de língua portuguesa

Por Eduardo Gonçalves Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 6 jul 2021, 13h56
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  • Com a agenda negativa diária de denúncias de corrupção e má gestão da pandemia de Covid-19, o governo Bolsonaro tem evitado ao máximo se envolver em assuntos polêmicos, sobretudo da área da diplomacia internacional. Por isso, pouco se tem falado no Brasil sobre o encontro dos chefes de estado da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CLPL) marcado para os dias 16 e 17 de julho, em Luanda, capital de Angola. Enquanto os presidentes de Portugal e Angola confirmaram presença, Bolsonaro já avisou que não irá ao país africano – mandará no seu lugar o vice-presidente Hamilton Mourão.

    A notícia não caiu bem entre autoridades angolanas, pois a imprensa estatal de lá havia divulgado que Bolsonaro iria ao evento em março de 2020, após uma visita do chanceler angolano, Manuel Augusto, em Brasília. Por isso, a presença do presidente era bastante aguardada. Em julho de 2018, por exemplo, o então presidente Michel Temer foi a Cabo Verde para a reunião da CLPL. Criada em 1996, o grupo é formado por nove países: Brasil, Angola, Portugal, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste. E tem como objetivo reforçar a diplomacia e a cooperação econômica entre os países membros, além de difundir a língua portuguesa.

    Uma das principais explicações para a ausência de Bolsonaro é que Angola virou um assunto incômodo para o governo desde novembro de 2019, quando uma ala de pastores angolanos tomou numa espécie de “golpe interno” dezenas de templos da Igreja Universal do Reino de Deus, que eram comandados por pessoas ligadas ao bispo Edir Macedo. Essas pessoas acabaram sendo expulsas da instituição neopentecostal, que passou a ser controlada por um comitê da “reforma angolana” reconhecido pelo Estado de lá.

    No começo, a ala brasileira até achou que a Justiça e o governo de Angola iriam intervir a favor deles. Mas o que ocorreu foi o oposto: a Procuradoria-geral da República avança numa investigação contra a Igreja pelas acusações de discriminação racial, abuso de autoridade e evasão de divisas. E, no meio do processo, ainda foi determinado o confisco de igrejas, a deportação de pastores brasileiros e a suspensão temporária das atividades da TV Record, afiliada da matriz brasileira no país africano.

    Com pouco diálogo com o governo angolano, lideranças da Universal brasileira começaram a se queixar da falta de ação da gestão Bolsonaro no assunto. Em entrevista à TV Record, em maio, o bispo Renato Cardoso, genro de Macedo e apontado como o sucessor dele, chegou a questionar “até quando o governo brasileiro vai ficar calado e passivo diante dessa situação?”.

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    Num claro gesto para aplacar a irritação de Macedo, que é hoje um importante aliado do governo no segmento evangélico, Bolsonaro chegou a indicar, em junho, para a embaixada da África do Sul o ex-prefeito do Rio Marcelo Crivella (Republicanos), que é sobrinho de Macedo – o nome ainda precisa ser aprovado pelo Senado. A África do Sul funcionaria como um importante entreposto das ambições da Igreja no continente africano.

    Desde o aprofundamento da crise em Angola, parlamentares da bancada evangélica têm discutido com a Itamaraty a possibilidade de uma visita oficial ao país para tratar sobre o assunto. Até agora, essa viagem ainda não foi marcada.

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