O nome de Jones Manoel surpreendeu muita gente quando ele foi citado por Caetano Veloso durante entrevista ao programa Conversa com Bial, da TV Globo, em 2020, como uma de suas referências recentes da política, em especial do socialismo.
Naquele mesmo ano, o músico entrevistou o historiador pernambucano, à época com 30 anos, em um programa do canal Mídia Ninja, no YouTube. “Hoje estou muito feliz porque vou conversar com Jones Manoel, um jovem pensador marxista que mudou a minha cabeça”, disse Caetano ao apresentar o seu entrevistado.
O músico baiano disse na ocasião que havia deixado para trás alguns pensamentos “liberaloides” que tinha depois de ler Revolução Africana: Uma Antologia do Pensamento Marxista, escrito por Jones. Segundo o cantor, a obra também fez com que ele mudasse a sua visão sobre alguns governos socialistas históricos, o que na época foi considerado por muitos como um flerte com o stalinismo, que norteia boa parte do ideário de Jones.
Dono de um canal no YouTube com mais de 271 mil inscritos, Jones vinha se desentendendo com a direção do seu partido, o PCB, já há algum tempo, mas o pior aconteceu no domingo, 30, quando ele e outros militantes foram expulsos da legenda. Antes, eles já haviam sido afastados do Comitê Central, o órgão máximo de direção do partido.
O PCB é um dos partidos que disputam a herança do velho Partido Comunista Brasileiro, criado em 1922 pelo revolucionário Luiz Carlos Prestes. A desintegração da legenda nas últimas décadas também deu origem ao PCdoB e ao PPS (que depois virou Cidadania). O PCB é o menor dos filhos do chamado “Partidão”: tem 12,4 mil filiados contra 398,6 mil do PCdoB e 439,2 mil do Cidadania.
“Camaradas, hoje, na reunião do Comitê Central do PCB, eu, Ana Karen, Gabriel Landi, Gabriel Lazarri, Ivan Pinheiro e mais alguns camaradas foram expulsos do PCB. 10% do Comitê Central foi expulso do partido e das instâncias de direção no mês de julho!”, postou no domingo (veja a sequência de posts abaixo).
https://twitter.com/jonesmanoel_PE/status/1685846996265865216?s=20
O pano de fundo da polêmica foram as críticas feitas por Jones e seus aliados a um suposto desvirtuamento ideológico do PCB e o desrespeito a resoluções aprovadas pelo próprio partido. As críticas vão desde a política nacional até questões como posicionamentos sobre a guerra na Ucrânia.
Em nota, antes da expulsão, Edmilson Costa, secretário-geral e principal dirigente do PCB, disse que a turma de Jones era “um grupo fracionista”, que tinha mais relevância nas redes sociais do que na vida real. ”Trata-se ainda de um pequeno grupo, cuja limitada ação na realidade concreta da luta de classes contrasta com a farta presença nas redes virtuais. Estão atrás de engajamento e buscando espalhar mentiras e calúnias contra a direção do partido para criar confusão entre a militância”, escreveu.
Jones Manoel já tentou a sorte na política eleitoral, mas esteve bem longe de um triunfo nas urnas. Em 2022, candidatou-se ao governo de Pernambuco, seu estado natal, mas teve apenas 0,69% dos votos e ficou em sexto lugar.