Desde o ano passado, pequenos grupos de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro passaram a marcar protestos na frente dos quartéis, conclamando um novo golpe militar no país. Na visão distorcida deles, o objetivo era acionar as Forças Armadas contra o Supremo Tribunal Federal (STF), o Congresso e os governadores — em síntese, todos aqueles que ousaram de alguma forma discordar do presidente. Os militares obviamente nunca deram atenção a esses pedidos amalucados, e a vida seguia normal. Até que agora o presidente resolveu abrir uma crise com a cúpula das Forças Armadas ao demitir em uma tacada o ministro da Defesa e os comandantes do Exército, Aeronáutica e Marinha – algo sem precedentes no período democrático.
Com a nova rusga com os fardados, alguns grupos bolsonaristas passaram a repensar as estratégias e a orientar os seus seguidores a não irem mais às entradas dos quartéis nesta semana. “Vão para as ruas com faixas de ‘intervenção militar com Bolsonaro no poder’. Nada de ‘intervenção militar já’, nada dessa porcaria. Nosso apoio é para o presidente Jair Bolsonaro. Não queremos intervenção para mexer no Executivo. Saiam da porta dos quartéis para os militares entenderam”, disse um desses líderes nas redes sociais. “Grupo, nós estamos passando por uma crise. (…) Confiem em mim, não vão fazer nenhum movimento que seja pedir intervenção. Eles querem um motivo para prender e derrubar de vez o presidente da República”, disse outro coordenador.
O receio dos bolsonaristas é que, com o desconforto com o Planalto, as Forças Armadas apliquem um golpe para destituir Bolsonaro — algo inimaginável, já que os comandantes militares são unânimes em dizer que não há nenhum risco de quebra da ordem democrática tanto de um lado quanto de outro. O próprio presidente, que na semana passada chegou a falar em “meu Exército” e “o caos vem aí”, baixou o tom nesta semana declarando que “joga dentro da Constituição”.
Como era de se esperar, no submundo das redes bolsonaristas, os ex-ministro da Defesa Fernando Azevedo e Silva e o ex-comandante do Exército, general Edson Leal Pujol, passaram de ídolos a “comunistas”.
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