O presidente da Rússia, Vladimir Putin, vem sendo duramente criticado pela comunidade política internacional, principalmente no Ocidente, após ter invadido a Ucrânia. No Brasil, no entanto, a situação é bem diferente. A reação do presidente Jair Bolsonaro foi de silêncio – até agora não emitiu nenhuma nota condenado o líder que visitara uma semana antes da guerra. Enre as lideranças de esquerda, o comportamento não é muito diferente.
Na maioria das vezes, as organizações e líderes de esquerda emitiram notas anódinas repudiando a guerra e pedindo diálogo, mas sem criticar o dirigente russo. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), por exemplo, disse em nota que “ninguém pode concordar com guerra, ataques militares de um país contra o outro”, mas não incluiu uma palavra sobre Putin. A nota do partido foi na mesma linha, defendendo que a “resolução de conflitos de interesses na política internacional deve ser buscada sempre por meio do diálogo e não da força”. Mas nada de Putin.
Outros líderes de esquerda foram ainda mais genéricos, como Guilherme Boulos (PSOL): “Vale a frase de Sartre, há mais de 50 anos: ‘Quando os ricos fazem a guerra, são sempre os pobres que morrem’”, foi o seu único post sobre o assunto no Twitter.
No fundo, os líderes da esquerda poupam Putin porque não acham que ele esteja completamente errado – para a grande maioria, o dirigente russo está respondendo a uma agressão anterior: a movimentação dos EUA para que a Ucrânia passasse a fazer parte da OTAN, a aliança militar ocidental criada após a Segunda Guerra exatamente para conter a influência e o expansionismo soviético.
A bancada do PT no Senado cometeu o deslize de expor esse pensamento, mas acabou se arrependendo. Em nota no Twitter, assinada pelo líder Paulo Rocha (PT-PA), disse que o “condena a política de longo prazo dos EUA de agressão à Rússia e de contínua expansão da OTAN”. Pouco tempo depois, sob críticas, apagou. “A grande parcela da culpa, da responsabilidade (pela guerra), é dos EUA e da expansão da OTAN”, ecoou Celso Amorim, ex-chanceler no governo Lula, e ainda influente nas questões de política externa do partido.
João Pedro Stedile, líder do MST (movimento sem-terra) e aliado de sempre do petismo, saiu até em defesa da Rússia após o governo americano anunciar sanções. “Os EUA não têm moral para sancionar nenhuma nação neste mundo. Nunca cumpriu nenhuma resolução da ONU”, disse.
Em outros partidos, o pensamento é o mesmo. Juliano Medeiros (PSOL) se deu ao trabalho de responder a um tuíte do presidente americano Joe Biden. “Isso é sério? Você realmente acredita que seu governo não tem qualquer responsabilidade por essa crise depois que tentou levar a Ucrânia para a OTAN?”, escreveu.
Manuela Dávila (PCdoB) também apontou o dedo para os EUA ao defender que Rússia, Ucrânia e a comunidade internacional negociem a paz. “Isto requer que as legítimas preocupações da Rússia com sua segurança sejam consideradas, e que seja revertido o cerco da OTAN às suas fronteiras” postou nas redes sociais.
Ucrânia à direita
Outro motivo para colocar o pé no freio da solidariedade de esquerda à Ucrânia é o fato de o país ter dado uma guinada à extrema direita após a eleição em 2019 de Volodymyr Zelenski, um comediante, na esteira da onda de direita internacional que já havia levado ao poder Donald Trump (EUA), em 2017, e Bolsonaro (Brasil), em 2018.
Seu partido, o Servo do Povo, e seu governo são frequentemente acusados de ligação com grupos neonazistas, que se tornaram comuns na Ucrânia. Esse movimento chegou a inspirar parte da direita bolsonarista no Brasil, que em determinado momento passou a usar de forma frequentemente o termo “ucranizar o Brasil” e a levar símbolos do neonazismo ucraniano para protestos de rua no Brasil.