O presidente Jair Bolsonaro (PL) e o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), vinham dançando nos últimos meses uma valsa de aproximação que parecia indicar um óbvio alinhamento eleitoral no estado, segundo maior colégio eleitoral do país, sobretudo depois de o principal adversário do governador, o ex-prefeito Alexandre Kalil (PSD), obter apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
No final de abril, o presidente participou, ao lado do governador, da abertura da ExpoZebu, em Uberaba, onde declarou que Zema “é um exemplo para todos nós do Brasil”. Um mês depois, Bolsonaro compareceu a um evento na Federação das Indústrias de Minas (Fiemg) e levantou o braço do governador diante da plateia de empresários. Diante da irredutível candidatura à Presidência do cientista político Luiz Felipe d’Ávila pelo Novo, em uma chapa pura com o deputado mineiro Tiago Mitraud, no entanto, o mais recente encontro entre Zema e Bolsonaro, em Brasília, semana passada, não só terminou sem acordo como afastou a chance de uma composição.
Como mostra reportagem de VEJA desta semana, Zema e Novo reafirmam apoio a d’Ávila e não topam um acordo formal com Bolsonaro que inclua uma vaga ao PL na chapa do governador — a preferência bolsonarista era por uma candidatura ao Senado do deputado federal Marcelo Álvaro Antônio, ex-ministro do Turismo e aliado próximo do capitão. Aliados de Romeu Zema dizem que a vaga deve ser ocupada pelo deputado Marcelo Aro, do PP, um dos partidos mais próximos do presidente, mas que, segundo bolsonaristas, não é o bastante para uma adesão a Zema. “Eu e o presidente temos algo em comum: tenho a missão de combater o PT, que destruiu Minas, e fazendo isso estou colaborando com ele. Esse ‘inimigo’ em comum nos torna quase parceiros”, disse a VEJA governador, que ressalta as boas relações institucionais entre o estado e o governo federal.
Além da candidatura do Novo à Presidência, a lógica de Zema ao se distanciar de Bolsonaro se escora em seu favoritismo e na rejeição ao capitão no estado, traduzidos em números expressivos nas pesquisas. Enquanto 61% dos mineiros acham que o presidente não merece ser reeleito, segundo a mais recente pesquisa Genial/Quaest, o governador lidera a corrida mineira e 63% dos eleitores veem com bons olhos um segundo mandato seu.
O levantamento também mostra os eleitores de Bolsonaro já amplamente alinhados a Zema (66%), assim como parte expressiva dos que votarão em Lula (35%), em uma dobradinha batizada de “Luzema” – Minas tem amplo histórico de votos “mistos”, como o Lulécio (Lula presidente e Aécio Neves governador) em 2002 e 2006 e o “Dilmasia” (Dilma Rousseff presidente e Antonio Anastasia governador), em 2010. Zema, além do mais, sabe que seus adversários buscarão associar sua imagem à de Bolsonaro, como já vem fazendo Alexandre Kalil.
Diante da posição de Zema, Bolsonaro saiu do encontro da semana passada decidido a colocar água no moinho do senador Carlos Viana (PL-MG), pré-candidato bolsonarista ao governo, com quem viajou a Juiz de Fora na sexta, 15. “O presidente não pode ser coadjuvante em Minas”, diz Carlos Viana. Apesar das inúmeras evidências do contrário, há no PL mineiro quem não descarte uma composição. Um deles é o vice-presidente da Câmara, deputado Lincoln Portela. “Questões mineiras geralmente são resolvidas mineiramente, penso que ainda levará um tempo para sabermos como ficará o quadro”, diz Portela, vice-presidente do PL em Minas.
A aposta de Romeu Zema, embute dilemas. Enquanto uma eventual aliança formal com o presidente poderia afastar os eleitores de Lula que cogitam votar no governador, o desacerto com o capitão deve, evidentemente, favorecer um crescimento de Viana a partir de uma divisão do voto conservador. O senador do PL, que Zema queria ver fora da disputa, espera receber os apoios de partidos como Republicanos, União Brasil e até o PP, que hoje caminha com o governador.
Assim, espera-se que Viana, no mínimo, dificulte a sonhada reeleição do governador em primeiro turno. Embora palpável nos números, este objetivo soa um tanto otimista demais diante da dureza esperada para o páreo: Alexandre Kalil é forte na capital e na região metropolitana e conta com Lula em seu palanque. A campanha sequer começou formalmente e o potencial eleitoral da aliança do PSD com o PT não é desprezível para, pelo menos, garantir ao pessedista um lugar no segundo turno: Kalil marca 42% das intenções de voto na pesquisa Quaest quando identificado com Lula.