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Por José Benedito da Silva Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
A política e seus bastidores. Com Laísa Dall'Agnol, Victoria Bechara, Bruno Caniato, Valmar Hupsel Filho, Isabella Alonso Panho e Ramiro Brites. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.

Quadras de tênis em área nobre de SP têm multa ambiental e alvará cassado

Após início da construção do empreendimento, terreno cedido pela prefeitura foi retomado e empreendedor incluído em lista de inadimplentes

Por Ramiro Brites Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO , Isabella Alonso Panho Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 23 set 2024, 11h19

Em uma das áreas mais nobres da maior metrópole do país, São Paulo, uma escolinha de tênis ganhou uma oportunidade incrível. A Tennis Lounge, que já tem unidades nos Jardins, nas imediações da Faria Lima e em Moema – todos endereços frequentados pela elite paulistana –, poderia explorar por três anos um terreno de 6.500 metros quadrados da prefeitura, na Avenida Ruth Cardoso, a cerca de 100 metros do Shopping Villa Lobos, em troca de “melhorias urbanas, paisagísticas e ambientais”. O acordo foi firmado em um termo de cooperação protocolado em outubro de 2023. Antes do novo empreendimento ser inaugurado, a obra foi paralisada por irregularidades envolvendo o corte irregular de vegetação e a licença para a construção. As árvores do lote, uma área verde pública, foram trocadas por saibro e ginásio para a prática esportiva. Segundo a prefeitura, o terreno milionário foi retomado pela gestão pública e as quadras estão inutilizadas, apesar de a empresa afirmar que a “área foi cedida regularmente” e manter no site o telefone de contato para alunos e tenistas interessados em bater bola na futura nova unidade.

O Ministério Público de São Paulo abriu inquérito para investigar a derrubada da vegetação. A supressão irregular de uma dúzia de árvores gerou uma multa de 24.000 reais. A prefeitura informou que o débito nunca foi pago, o responsável pela obra nem sequer respondeu às intimações para esclarecimentos e, portanto, foi incluído na lista da Dívida Ativa do Município. A Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente vistoriou o local em junho deste ano. No entanto, quem acompanha de perto a construção suspeita de que houve subnotificação no número de árvores cortadas, afinal, ocupavam boa parte da área de milhares de metros quadrados.

No fim de julho, a promotora do Meio Ambiente, Maria Gabriela Ahualli Steinberg, determinou à LG Escola e Eventos Esportivos, empresa que usa a marca Tennis Lounge como nome fantasia, que entrasse em contato com a Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente para informar quais seriam as medidas adotadas para reparar o dano ambiental causado pela derrubada da vegetação. A manutenção das árvores, inclusive, era um dos critérios incluídos no termo de cooperação que permitiu a exploração do imóvel público pela empresa. Em nota, a empresa afirmou que “apresentará os esclarecimentos necessários ao Ministério Público, no momento oportuno”.

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Imagem de satélite, de outubro de 2021, mostra área verde, que foi substituída por saibro — (Google Earth/Reprodução)

Com valor estimado de 2,6 milhões de reais, a obra está paralisada, conforme a prefeitura. O Executivo municipal diz que o processo de cassação do alvará do empreendimento foi iniciado em junho, mas o termo de cooperação, que sustenta a licença, foi cassado em abril. No fim de maio, a construção ainda estava em andamento. Uma ação movida no dia 27 daquele mês, a escolinha de tênis e uma empresa de concretagem brigam por cerca de 30.000 reais, pois “a autora está em processo de construção de quadras de tênis e da infraestrutura correlata em sua nova unidade, situada na Av. Dra. Ruth Cardoso, nº. 4847, Pinheiros, São Paulo/SP”. Em mensagem enviada ao número de contato disponível no site, a empresa disse que ainda não há data prevista para inauguração das novas quadras, mas que as mensalidades variam entre 490 reais e 710 reais.

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Suspeita de fraude de alvará

Uma investigação do escritório Rocha e Baptista Advogados mostra alguns problemas no alvará que permitiu o início das obras de quadras de tênis. A banca cogitou entrar com uma ação popular para pedir a suspensão do empreendimento, mas recuou, em junho deste ano, após receber a informação da Subprefeitura de Pinheiros de que providências seriam tomadas. No documento, que serviria como esboço para a ação, os advogados afirmaram que “a LG Eventos falsificou um termo de compromisso com a Subprefeitura de Pinheiros”. O subprefeito, Leonardo Santos, foi exonerado em 17 de abril e substituído por Alan Nunez Cortez.

Os advogados obtiveram uma cópia do processo do termo de cooperação. Ao examinar o procedimento, foi verificado que o termo de cooperação não tinha lastro e o processo administrativo teria sido aberto apenas para a publicação célere do documento que sustenta o alvará da obra. Além disso, ao menos duas pastas da gestão municipal recomendaram alterações no processo. Um órgão ligado à Secretaria de Urbanismo de São Paulo sugeriu, em julho de 2023, que para o empreendimento ser erguido em área pública, o “instrumento jurídico aplicável é a permissão de uso”, e não um termo de cooperação. Os técnicos solicitaram que a Subprefeitura de Pinheiros iniciasse um novo procedimento para pleitear a permissão de uso do imóvel.

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Avaliação técnica pede mudança no instrumento jurídico para ceder o terreno – (//Reprodução)
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Mais de oito meses depois, em março, a Secretaria de Esportes e Lazer indica o indeferimento da solicitação pois a empresa “não possui o mérito esportivo nos trabalhos desenvolvidos e pretendidos”, já que uma das contrapartidas à cessão do terreno seria a realização de trabalho comunitário. Em mensagem enviada em setembro deste ano, a Tennis Lounge informou que pretende implementar um programa competitivo para crianças no local. O indeferimento da cessão de uso foi sugerido em março, como mostra e-mail, que justifica: “por ser uma área nobre, se não for feito um trabalho social com os participantes bem definidos, a atividade pretendida no local não será de utilidade pública”. A empresa afirmou, em nota que “a área foi regularmente cedida pela prefeitura” e “possui educadores capazes de ofertar iniciação esportiva a qualquer pessoa, especialmente para crianças”,

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Órgão da prefeitura questiona trabalho comunitário – (./Reprodução)

A VEJA a prefeitura informou que “o termo de cooperação citado foi cassado em abril deste ano por desvirtuamento, já que a empresa não poderia ter realizado obras no local. Atualmente, a área está em posse da Prefeitura de São Paulo”. Além disso, o Alvará de Aprovação e Execução de Edificação Nova foi suspenso e o processo de cassação foi aberto em junho e segue os trâmites legais. A Tennis Lounge ainda anuncia na internet a inauguração da nova unidade.

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Confira as notas da encaminhadas pela prefeitura na íntegra:

“A Subprefeitura Pinheiros informa que o termo de cooperação citado foi cassado em abril deste ano por desvirtuamento, já que a empresa não poderia ter realizado obras no local. Atualmente, a área está em posse da Prefeitura de São Paulo. 

Adicionalmente ao já informado pela Prefeitura de São Paulo à reportagem, a Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento comunica que o Alvará de Aprovação e Execução de Edificação Nova para o empreendimento foi suspenso e seu processo de cassação, iniciado em junho deste ano, segue os trâmites legais. A Subprefeitura Pinheiros ressalta que a obra está paralisada e, uma vez que o Termo de Cooperação foi cancelado, a área foi retomada pela Prefeitura. A Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente acrescenta que o local foi vistoriado em junho, o responsável pela intervenção, autuado no valor de R$ 24 mil pelo corte irregular de 12 árvores  e, por falta de atendimento à intimação para regularização e esclarecimentos, o contribuinte foi incluído na Dívida Ativa do Município.”

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Confira a nota da empresa na íntegra:

“A área foi regularmente cedida pela Prefeitura de SP à LG LOUNGE, tendo sido realizados todos os investimentos previstos para o começo da operação. A LG LOUNGE possui educadores capazes de ofertar iniciação esportiva a qualquer pessoa, especialmente para crianças. Em grande medida, essa expertise, foi colocada a serviço da população de São Paulo, pela oferta de aulas a crianças carentes e formação de professores, cuja dinâmica será retratada no procedimento administrativo.

Em relação ao inquérito, a LG LOUNGE apresentará os esclarecimentos necessários ao Ministério Público, no momento oportuno”

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