O economista Evandro Sá Barreto Leitão, de 57 anos, foi servidor público da Fazenda estadual do Ceará e cartola de futebol – presidiu o Ceará, um dos grandes do estado entre 2008 e 2015 – antes de mergulhar na política. E, quando o fez, foi com sucesso. Deputado estadual por três mandatos consecutivos desde 2015, ele se tornou no domingo o prefeito eleito de Fortaleza, a maior cidade do Nordeste.
O triunfo em Fortaleza foi o único do PT em capitais neste ano e serviu para aliviar um pouco o desempenho pífio de uma legenda que tem o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e a máquina federal, mas acumulou derrotas em várias cidades importantes. A conquista foi suada na capital do Ceará, por menos de um ponto percentual, sobre o bolsonarista André Fernandes (PL).
A solitária vitória petista foi conquistada por alguém que ainda nem comemorou um ano de aniversário no partido: ele filiou-se à legenda em 17 de dezembro de 2023, ou seja, está há pouco mais de dez meses na sigla. Antes, por quatorze anos, foi filiado ao PDT dos irmãos Ciro e Cid Gomes. Sempre foi mais próximo de Cid, de quem foi secretário estadual de Trabalho e Desenvolvimento Social entre 2011 e 2013, no segundo mandato do então pedetista como governador do Ceará.
Briga entre Ciro e Cid Gomes
Com prestígio político crescente, tanto que é presidente da Assembleia Legislativa do Ceará desde fevereiro de 2021, ele entrou em rota de colisão com o PDT em meio à briga fratricida no partido entre os irmãos Ciro e Cid, que só piorou após a fracassada campanha de Ciro Gomes à Presidência da República e a derrota para Elmano de Freitas (PT) na eleição para o governo do estado, ambos em 2022.
Em meio às divergências, Leitão migrou para o PT levado por um padrinho político de peso: o ex-governador, senador e ministro da Educação, Camilo Santana, hoje o maior cacique político do Ceará. Na nova casa, chegou falando manso, mas um mês depois já encaminhava a sua pré-candidatura à prefeitura, apesar da oposição de boa parte do PT, que preferia a ex-prefeita Luzianne Lins.
Campanha
Na campanha eleitoral, além da presença do governador Elmano de Freitas (PT) e de Camilo Santana (que pediu férias do ministério para poder se dedicar integralmente à eleição), Evandro Leitão apostou firme na conexão com o presidente Lula – que foi ao seu primeiro comício logo no início do segundo turno, em 11 de outubro. Antes, havia recebido Lula na convenção que lançou o seu nome e foi o único a ter esse privilégio entre os candidatos do PT nas capitais.
Leitão também atraiu para a campanha lideranças políticas de outros partidos, como o prefeito reeleito de Recife, João Campos (PSB), o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e os candidatos a presidente da Câmara Elmar Nascimento (União Brasil) e Antonio Brito (PSD), ambos da Bahia.
Na plataforma política, propostas de investimentos na área social, saúde e educação, além de lembrar a todo momento que era o único capaz de alavancar os investimentos do governo federal em Fortaleza por sua proximidade com Lula. Também fez propostas para a segurança e focou boa parte do discurso nas mulheres – até para fazer contraponto ao rival, André Fernandes, que fez declarações polêmicas sobre violência de gênero.
Vitória sobre o PDT
A eleição de Evandro Leitão tem um significado enorme para a política do Ceará e do país. Consolida o poder regional de Camilo Santana, fortalece a posição do partido no governo do estado (que administra há dez anos consecutivos) e abre caminho para reivindicar melhor posição no comando nacional do PT.
De quebra, enterra de vez o PDT e a relevância política de Ciro Gomes. Após derrotar o prefeito José Sarto (PDT) no primeiro turno, Leitão viu vários de seus ex-colegas de partido apoiarem a candidatura do bolsonarista André Fernandes – entre eles o ex-prefeito Roberto Cláudio, que se engajou firmemente para derrotar o ex-companheiro de PDT.
Não adiantou: em dez meses, Evandro Leitão consolidou a troca de partidos, abandonou o inferno que virou o PDT cearense, venceu as resistências petistas e é hoje a estrela solitária do PT nas capitais.