The Economist: ‘Lula perde influência no exterior e popularidade em casa’
Em editorial, revista britânica fala em 'política externa incoerente' e critica aproximação entre Brasil e China em detrimento de relações com os EUA

A revista britânica The Economist publicou no último domingo, 29, um artigo de opinião com severas críticas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e aos rumos da política externa brasileira. Sob o título “Presidente do Brasil perde influência no exterior e popularidade em casa”, o editorial afirma que o petista “colocou o Brasil no mapa, mas não se adaptou a um mundo em mudança”.
Segundo o artigo, a rápida e incisiva condenação do Itamaraty aos ataques conduzidos pelos Estados Unidos contra o Irã, na semana passada, “coloca o Brasil em atrito com as demais democracias ocidentais, que apoiaram os bombardeios ou apenas expressaram preocupação”. O texto argumenta que a presença de delegações iranianas e russas na cúpula anual dos BRICS, que ocorre no Rio de Janeiro a partir do próximo domingo, 6, dificulta a imagem de “não-alinhamento” do governo brasileiro em conflitos internacionais e “faz o Brasil parecer cada vez mais hostil ao Ocidente”.
Além do discurso em relação ao Oriente Médio, o editorial classifica a política externa do Brasil como “incoerente”, afirmando que Lula não se esforça para manter relações com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, mas se encontrou duas vezes no ano passado com Xi Jinping, líder da China. Há críticas, também, à visita do petista à Rússia, em maio, para o evento organizado por Vladimir Putin em celebração ao papel soviético na Segunda Guerra Mundial. “Talvez a manobra mais sensata de Lula seja tentar tirar vantagem da perda global de confiança nos EUA como parceiro comercial […] mas isso vem com esforços de grandeza que superam, e muito, o peso do Brasil no palco mundial”, diz o texto.
Outra suposta contradição na diplomacia brasileira, segundo a The Economist, é o distanciamento da Argentina por “divergências ideológicas” com Javier Milei acompanhada de um endosso, no início do mandato, à ditadura liderada por Nicolás Maduro na Venezuela. Sobre as relações com os vizinhos latinoamericanos, o artigo pontua que “Lula parece indisposto ou incapaz de unir as nações da América Latina em uma frente unida contra as deportações e a guerra tarifária de Trump”.
O editorial ressalta, ainda, a queda da aprovação de Lula entre o eleitorado brasileiro, atribuindo a popularidade do petista nos dois primeiros mandatos ao “apoio de sindicatos, católicos socialistas e pobres beneficiários de esmolas do governo” e à riqueza colhida com o boom das commodities. “Hoje, porém, o Brasil é um país onde o cristianismo evangélico está disparando, empregos na agricultura e na economia temporária estão crescendo rápido e a direita também oferece esmolas”, afirma o artigo da revista britânica.