Violência atingiu 27 milhões de mulheres em 2024, diz pesquisa
Levantamento aponta que 37,5% das brasileiras já sofreram ao menos algum tipo de agressão física, sexual ou psicológica nos últimos doze meses

Ao menos 37,5% das mulheres brasileiras já sofreram ao menos algum tipo de violência física, sexual ou psicológica cometida por um parceiro íntimo nos últimos doze meses, segundo a quinta edição da pesquisa Visível e Invisível: a Vitimização de Mulheres no Brasil, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e do Instituto Datafolha. É a maior prevalência já indicada pelo levantamento, cuja série histórica tem início em 2017. Quando projetado sobre o número total de habitantes do país, o percentual representa 27,6 milhões de mulheres vítimas de violência no período entre fevereiro de 2024 e fevereiro de 2025.
Entre os tipos de violência a que as mulheres são mais comumente submetidas, destaca-se a psicológica. Segundo a pesquisa, 31,4% das entrevistadas relataram ter sofrido insultos, humilhações ou xingamentos nos doze meses que antecederam a coleta de dados para a pesquisa. As agressões físicas por meio de tapas, empurrões ou chutes foram relatadas por 16,9% das entrevistadas. Empatados em terceiro lugar estão as ameaças de agressão e a perseguição/amedrontamento (stalking), ambos com 16,1%.
De acordo com o levantamento, o crescimento de modalidades graves de violência que funcionam como preditivos do feminicídio parece explicar os dados divulgados na última edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, em 2024, quando foi apontado um crescimento de todos os registros de ocorrência de violência contra a mulher realizados pelas Polícias Civis, especialmente aquelas que decorrem de violência doméstica. “Com os dados aqui divulgados parece evidente que não estamos diante apenas de um crescimento das notificações, motivado pela maior conscientização de meninas e mulheres frente a seus direitos e/ou em relação a práticas violentas no âmbito de relações íntimas que foram historicamente naturalizadas, mas de fato diante do aumento da prevalência”, diz o estudo.
A análise dos perfis mais afetados indica que mulheres de 25 a 34 anos (43,6%) são as vítimas mais comuns de violência no último ano. A faixa etária de 35 a 44 anos (39,5%) e de 45 a 59 anos (38,2%) aparecem em seguida. Quando o recorte é por raça/cor das vítimas de violência nos últimos doze meses, as mulheres negras são as que mais sofreram no período analisado. A análise revela que 37,2% das mulheres negras relataram ter sofrido violência no último ano, sendo que o índice é ainda maior entre as pretas (41,5%) do que entre as pardas (35,2%). Entre as brancas, o percentual foi de 35,4%.
Agressores estão dentro de casa
O levantamento aponta que o principal autor das violências sofridas pelas mulheres nos últimos 12 meses são o cônjuge, o companheiro, o namorado ou o marido (40,0%). Ex-cônjuges, ex-companheiros e ex-namorados foram citados por 26,8% das entrevistadas. A série histórica aponta que a proporção de citação aos parceiros íntimos como autores de agressões duplicou em oito anos, indo de 16% em 2017 para 26,8 neste ano.
Assim como nas pesquisas anteriores, a casa segue sendo o principal local onde ocorrem os atos de violência para significativa parcela da população feminina brasileira. Para 57%, a própria casa foi o local onde ocorreu a violência mais grave sofrida no último ano, enquanto que a rua apareceu em 11,6% dos relatos.
Outro dado preocupante mostra o nível de conivência da sociedade diante de atos de violência contra mulheres. Entre as entrevistadas, 91,8% disseram ter sofrido violência na presença de terceiros no último ano. Em 47,3% dos casos quem presenciou foram amigos ou conhecidos; em 27%, os filhos; e em 12,4%, outros parentes. Apenas em 7,7% os atos de violência foram testemunhados por pessoas desconhecidas.
A pesquisa tem abrangência nacional. Foram realizadas 2.007 entrevistas em 126 municípios de pequeno, médio e grande porte, no período de 10 a 14 de fevereiro de 2025. A margem de erro para o total da amostra é de 3 pontos percentuais para mais ou para menos.