
A denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República na terça-feira, 18, contra Jair Bolsonaro e seus principais sócios na tentativa de golpe de Estado, representa uma nova oportunidade para o Brasil e suas instituições se consolidarem como democráticas e funcionais. Em outras palavras: trata-se de uma bela chance para acabarmos de vez com a a fama de “o país do jeitinho”.
Sobram provas do intuito golpista de Bolsonaro, que passou décadas defendendo os crimes da ditadura militar e pregando a derrubada dos valores e das instituições civis.
Também são claras as evidências de que o ex-presidente estimulou servidores militares e civis a se colocarem contra o Supremo Tribunal Federal e outras instituições, como a própria imprensa.
O mesmo Bolsonaro que uma vez defendeu matar a tiros o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso é aquele que prometeu agredir um repórter por perguntas incômodas.
Se a conspiração for comprovada, condenar essa horda golpista à cadeia é uma necessidade para o Brasil mostrar ao mundo, de uma vez por todas, que as leis nacionais são feitas para serem cumpridas.
Digo isso no contexto em que, não raro, os interesses pessoais de algumas autoridades culminam em vista grossa para os mau feitos de políticos envolvidos em grandes escândalos.
Uma evidente semelhança entre a situação atual e escândalos anteriores é até mesmo irônica. Logo após a denúncia da PGR, Bolsonaro e seus asseclas passaram a disseminar um discurso de que são vítimas de lawfare e perseguição. Também passaram a qualificar a denúncia da PGR como “peça de ficção”.
Há uma diferença entre Lula e Bolsonaro quando o tema é golpe, além do fato de o atual presidente ser a principal vítima da conspiração. Enquanto um foi um importante opositor da ditadura, o outro até hoje sonha com a volta do regime criminoso. Do mesmo modo, o escandalo atual, que tem como mote a abolição da democracia, é maior e mais grave do que qualquer outro.
Mas não é possível deixar de notar que os argumentos de Bolsonaro e seu grupo, agora denunciados, são os mesmos usados por políticos da base de Lula na época em que foram denunciados no caso do Mensalão do PT, por exemplo, e até na malfadada Lava Jato, com diversos abusos.
No caso do mensalão, também abundavam provas de ilícitos. Mesmo assim, Lula, Dilma e seu partido nunca fizeram um mea culpa ou autocrítica.
Que a denúncia contra Bolsonaro não tenha o fim lamentável de impunidade e que represente o início de um novo período em que a Constituição e as leis passem a ser levadas a sério no país.