Bolsonaro faz ato de campanha para intimidar (e com recursos públicos)
A manifestação deste domingo, 23, é tentativa clara de intimidação. E a presença de Pazuello tinha um propósito
A “motociata” deste domingo, 23, do presidente Jair Bolsonaro é uma tentativa de intimidação de todos os adversários políticos. Uma multidão de motos em algazarra pela cidade faz mais barulho do que a força eleitoral que efetivamente tem, mas há inúmeras ilegalidades nesse ato.
O mais evidente foi a presença do general Eduardo Pazuello, oficial da ativa do Exército, na “motociata” totalmente política. É mais uma fronteira que as Forças Armadas atravessam desrespeitando o estatuto militar. Qualquer punição que não seja o general ser colocado compulsoriamente na reserva será pequena.
Fato é que se trata de um precedente perigoso. E o presidente quer esse precedente quebrado. Ele fez de caso pensado. Primeiro, tirou o general Edson Pujol para ter um Exército colaborativo. Agora, quer testar o novo comandante. No próprio domingo, 23, Pazuello mandou um pedido de desculpas ao general Paulo Sérgio.
Se a punição for branda, se Pazuello continuar sendo apenas “instado” a ir para a reserva, como tem sido desde o ano passado, se ficar claro que Pazuello é que decide seu destino, o estatuto estará desmoralizado. Para Bolsonaro, bastam as aparências. Ele quer que fique parecendo que tem o controle do Exército para o seu projeto político. Isso intimida adversários, as forças políticas em geral e as instituições.
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Outro ponto fundamental: o presidente está usando recursos públicos para fazer campanha eleitoral antecipada e isso é crime. Bolsonaro usa avião da presidência para os deslocamentos. Ele tem usado helicópteros da Força Aérea para sobrevoar manifestação, como as que ocorrem em Brasília frequentemente. Mobiliza a segurança, os assessores da presidência, tudo como se fosse um ato de governo. Mas é um evento de campanha.
A “motociata” teve também mais um elemento do projeto autoritário que move o presidente da República. A hostilidade contra a imprensa, o uso da força da multidão para ameaçar o jornalista Pedro Duran, da CNN Brasil. É uma forma de intimidar toda a imprensa.
Já o barulho das motos serviu para assustar a classe média que se distancia de Bolsonaro, além de outra parte que sempre foi anti-Bolsonaro. O ronco dos motores, os gritos são para dizer que está “tudo dominado”. Para abater o moral da tropa que ele considera inimiga. E é também para acordar seus militantes, que andam desanimados pelas muitas baixas, nas demissões dos ministros e assessores mais radicais como Ernesto Araújo, Abram Weintraub, Fabio Wajngarten.
O que Bolsonaro quis dizer neste domingo, 23, foi que jogará com violência contra quem quiser impedir seu projeto de mais um mandato. Por isso, as redes sociais trouxeram de volta a foto de Benito Mussolini numa manifestação de motocicleta. Qualquer semelhança não é coincidência.