A relação conturbada entre Jair Bolsonaro e João Doria tem sido um espetáculo à parte para quem acompanha o cenário político. Trocas de farpas, declarações polêmicas e até a autuação do presidente estão entre os acontecimentos públicos entre os dois.
Entre os fatos mais recentes, está a “motosseata” a favor do governo realizada em São Paulo no último final de semana, na qual o presidente atacou Doria e o chamou de “ditador”.
“Eu desafio o governador a vir conversar com vocês. Desafio ele a participar de um evento como esse que eu participei com motociclistas. Ele tirou o direito de ir e vir. O governador que se diz democrata, mas é ditador”, disse Bolsonaro aos apoiadores.
A resposta de Doria veio no cumprimento da lei: Bolsonaro foi autuado pelo governo de São Paulo em R$ 552,71 por não utilizar a máscara de proteção facial. Além do presidente, foram autuados pelo mesmo motivo o deputado Eduardo Bolsonaro e o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes.
Como a coluna mostrou, a presença de Bolsonaro na manifestação foi marcada pelo mau exemplo. Além de não usar máscara, o presidente escondeu a placa da moto que pilotou e usou capacete sem viseira.
Mas a briga entre Doria e Bolsonaro tem muitos capítulos. Motivados pela disputa em torno da vacinação contra o coronavírus, os dois tentam conquistar apoiadores num jogo político que deve ter seu auge nas eleições de 2022.
Na última semana, o governador de São Paulo rebateu o presidente em seu Twitter usando a ironia. Disse que Bolsonaro só poderia estar apaixonado por ele, pela frequência com que posta sobre ele, Dória.
“Depois de ter tomado duas doses de antirrábica, @jairbolsonaro passa de raivoso para apaixonado. Ele dorme sonhando com minha calça apertada e acorda pensando na minha sunga apertada. É muito amor. Tonho da Lua deve estar morrendo de ciúmes”, escreveu Doria.
O texto foi uma resposta à crítica feita por Bolsonaro durante live insinuando que o governador usava “sunguinha apertadinha”.
Não é a primeira vez que o presidente fala das roupas de Doria. No final de 2020, também durante live, Bolsonaro chamou o governador de “calcinha apertada” ao reclamar das medidas restritivas na pandemia. “Pelo amor de Deus, ô calcinha apertada! Isso não é coisa homem, pô”, disse Bolsonaro.
O apelido pegou entre os bolsonaristas e Doria resolveu rebater de forma irônica. Em abril, no Twitter, respondeu a um seguidor: “vou de calça apertada vacinar você e sua família também”.
Em maio, ao ser vacinado, escreveu em suas redes sociais: “Muito feliz de estar vacinado. E o detalhe: de calça apertada”. Em outra ocasião, fazendo críticas às restrições à circulação de pessoas em São Paulo, Bolsonaro chamou Doria de patife. “Esse patife que usou meu nome para se eleger”, disse.
Mais uma vez, a resposta de Doria veio de forma irônica no Twitter. ““Caaaaalma, Jair Bolsonaro. Pelo jeito, a primeira dose da vacina antirrábica não foi suficiente. É muito amor pela minha calça apertada”, escreveu.
Deixando de lado o duelo da rede, na vida real do país o que tem acontecido é que Bolsonaro jogou sempre contra a vacina, e o governador de São Paulo colocou toda a competência e tradição do Instituto Butantan para viabilizar a Coronavac, que foi a vacina que primeiro chegou no braço dos brasileiros.
Se o governador tivesse ficado paralisado diante das negativas do maior comprador, que é o governo federal, a imunização brasileira demoraria muito mais.
Mais do que as alfinetadas digitais, o importante é que, a despeito de erros que Doria cometeu – como ir se bronzear sem máscara no Rio, ou ir a Miami no auge do fechamento – ele teve inúmeros méritos na luta para imunizar os brasileiros. Já Bolsonaro nesse campo é o grande desastre.