Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Imagem Blog

Matheus Leitão

Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Blog de notícias exclusivas e opinião nas áreas de política, direitos humanos e meio ambiente. Jornalista desde 2000, Matheus Leitão é vencedor de prêmios como Esso e Vladimir Herzog

Como Maquiavel explica o grande dilema do Brasil atual

Daniel Fraiha faz paralelo do país com O Príncipe

Por Daniel Fraiha
Atualizado em 3 Maio 2022, 10h13 - Publicado em 1 Maio 2022, 10h34

A história do mundo, e particularmente a do Brasil, é regida muitas vezes por problemas de interpretação de texto. Ou melhor, pelo mau uso de determinados textos. O exemplo mais comum provavelmente é a bíblia. Uma obra que tem como base uma figura guiada pelo amor ao próximo, mas que é constantemente usada para promover o ódio.

O amor, aliás, é talvez o tema que mais gera essas incompreensões ou distorções mal intencionadas. É ele também um dos assuntos importantes do livro O Príncipe, de Nicolau Maquiavel, que ficou conhecido por ser sinônimo de atitudes inescrupulosas. O texto, no entanto, é muito mais profundo do que isso. É um grande tratado sobre como líderes tiveram sucesso governando diversos Estados.

Quando pergunta se é melhor para um líder ser amado ou temido, ele diz o seguinte: “seria necessário ser uma coisa e outra; mas, como é difícil reuni-las, em tendo que faltar uma das duas é muito mais seguro ser temido do que amado”.

Essa frase foi usada por séculos de forma indevida para promover o medo. Reis, imperadores e presidentes se baseiam nisso até hoje na busca incessante pelo poder, mas se esquecem do valor do amor e da esperança para o povo. Se esquecem também de um segundo ponto levantado por Maquiavel no mesmo capítulo do livro: “Deve o príncipe, não obstante, fazer-se temer de forma que, se não conquistar o amor, fuja ao ódio”.

Continua após a publicidade

E nessa ânsia louca por poder, os cavaleiros do apocalipse espalham o medo muitas vezes destilando o ódio. Quando na verdade, se for lido o cerne do texto, o que se prega é a busca do amor do povo, mas de forma a manter o temor que garanta o respeito. O escritor justifica a afirmação dizendo que “os homens têm menos escrúpulo em ofender a alguém que se faça amar do que a quem se faça temer”.

Essa discussão me veio à mente nos últimos dias ouvindo um debate entre Mano Brown e Criolo, no evento Rio2C, no Rio de Janeiro. A atriz e cantora Larissa Luz, que mediou a conversa, perguntou aos dois sobre o sorriso e o afeto no rap, fazendo alusão à fama de mal encarado de Brown.

Uma das conclusões da conversa foi sobre como é comum não haver sequer espaço para o sorriso na vida do povo brasileiro, principalmente para o povo preto e de periferia. A realidade no entorno é tão dura, a desigualdade e a pressão é tanta, que, nas palavras de Criolo, “muitas vezes se você sorrir você é amassado pelo mundo”.

Continua após a publicidade

Às vezes, como Criolo e Brown muito bem colocaram, é impossível conquistar o respeito pelo amor e pelo sorriso. A quem está totalmente desprotegido e desamparado, é comum só sobrar o caminho do medo. Cabe ao Estado, aos que deveriam ser líderes de verdade, trabalhar por um país que permita o amor. Essa luta é talvez a mais difícil, porque passa por todos os âmbitos, desde a educação, a saúde e a economia até o campo da cultura. Das necessidades básicas até as construções simbólicas.

Os bons são maioria, mas precisam ser defendidos e respeitados para que o amor possa ser visto.

Ainda assim, temos um grande vácuo de líderes que abarquem com integridade e coerência todos esses pontos. Não existe dúvida de que hoje essa abertura de caminhos não será fácil. Nem há espaço para ilusões com salvadores da pátria. Mas a pergunta que talvez seja a mais importante na hora de definir os próximos anos do Brasil esteja nessas duas pontas: Queremos um país que cultiva o medo ou um país que abre espaço para o amor?

Continua após a publicidade

Aos que considerarem essa pergunta romântica e ingênua, deixo um último trecho da obra de Maquiavel: “as armas com as quais um príncipe defende o seu Estado, ou são suas próprias ou são mercenárias (…). As mercenárias são inúteis e perigosas e, se alguém tem o seu Estado apoiado nas tropas mercenárias, jamais estará firme e seguro, porque elas são desunidas, ambiciosas, indisciplinadas, infiéis (…); não têm temor a Deus e não têm fé nos homens, e tanto se adia a ruína, quanto se transfere o assalto; na paz se é espoliado por elas, na guerra, pelos inimigos. A razão disto é que elas não têm outro amor nem outra razão que as mantenha em campo, a não ser um pouco de soldo”.

Quem continua debochando do amor como ingenuidade, vale reler esse trecho e lembrar das armas que espalham o medo e mantêm o temor em campo no Brasil hoje.

* Daniel Fraiha é jornalista e roteirista, Mestre em Criação e Produção de Conteúdos Digitais pela UFRJ e sócio da Projéteis – Criação e Roteiro

Publicidade

Imagem do bloco

4 Colunas 2 Conteúdo para assinantes

Vejinhas Conteúdo para assinantes

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.