As manifestações pedindo liberdade e confrontando o governo cubano criam uma situação difícil para o PT. Em campanha para 2022, o partido usa o discurso de defesa da democracia e das liberdades para atacar Bolsonaro. O Partido dos Trabalhadores, de fato, governou o Brasil respeitando o Congresso, a autonomia do Ministério Público, do Judiciário, e deu mais poderes à Polícia Federal, aprovou leis que ampliaram a democracia, como a Lei de Acesso à Informação. Portanto, ele pode agora criticar todos os soluços autoritários do presidente Jair Bolsonaro, que tem tentado manipular a Polícia Federal, controlar o Ministério Público através da Procuradoria Geral da República, além de fazer constantes ameaças às instituições.
O problema do PT são as relações exteriores do Partido. Quando era presidente, Lula chegou a dizer que a Venezuela tinha democracia demais, sempre defendeu a tese de que Cuba mantinha um governo democrático. Nos próximos meses se os protestos em Cuba crescerem ou forem reprimidos de forma violenta – na semana passada o governo cubano provocou um apagão da internet para deter os contatos entre os organizadores – o partido e seu candidato serão cobrados a dar uma opinião sobre o assunto. Se apoiarem o governo cubano, ou se derem declarações a favor do governo de Nicolás Maduro, da Venezuela, vão fortalecer o discurso de que o PT representa um perigo para a democracia.
Para escapar da saia justa em relação à Cuba, o PT vai culpar o embargo pelos problemas enfrentadas pela economia da ilha dos Castro. Essa resposta é boa, mas não é suficiente. Porém, em relação à Venezuela, qualquer declaração a favor do “bolivarianismo” vai pegar muito mal. Quem conhece a natureza do governo venezuelano, acha que ele parece mesmo é com o bolsonarismo. O regime bolivariano foi iniciado pelo coronel Hugo Chavez, e baseou na cooptação das Forças Armadas e na formação de milícias. Ou seja, lembra o projeto do presidente Bolsonaro.