Marighella, o filme, é diferente do Marighella, o livro. No cinema, é o maior manifesto em favor da luta armada da História do Brasil. No livro, não é. Aliás, sempre há essa discussão entre qual é melhor? O livro ou filme? Neste caso, os dois são muito bons – históricos.
Mas o mais importante é o timing. O filme chega aos cinemas em um momento dramático da História do Brasil, quando o governo de extrema direita bolsonarista avança com vitórias lamentáveis e até inesperadas no Congresso se pensássemos com a cabeça de meses atrás.
O presidente, o mesmo que há muito tempo vem liberando os seus grupos para compra de armas, conseguiu a sua maioria no Congresso, furou o teto de gastos e avança para ter o seu programa social com o intuito de se perpetuar no poder. Não é brincadeira o tamanho da vitória dele nesta semana.
O centrão fez estrago. Isso, ao lado do presidente que chegou ao poder fazendo não só chacota, mas apologia à tortura – ao lado de pastores evangélicos que o apoiaram descaradamente por uma bandeira conservadora que se espalhou Brasil afora.
Marighella tem o poder de ser o antagonismo ao que estamos vendo por aí desde 2018. Ele derruba toda e qualquer obra que tenta minimizar a excrescência da lei de anistia, por exemplo, feita ainda na ditadura para perdoar torturadores e assassinos em nome do Estado brasileiro. É a luta armada na perspectiva de quando ela aconteceu, não com os olhos de hoje.
Não há como não se emocionar no filme, a direção de som é avassaladora, mesmo que algumas atuações deixem a desejar. Marighella era tão gigante à época (assim como Seu Jorge – a atuação ruim não é dele) que seus livros eram traduzidos e censurados na França, como revelou a coluna nesta semana.
Quem leu e viu “O que é isso companheiro?” na adolescência, por exemplo, sabe que há, até hoje, uma discussão sobre se a parte da esquerda que aderiu à luta armada estava certa ou não. Fernando Gabeira diz que errou, outros dizem que não havia outro caminho.
Todo brasileiro deveria assistir e pensar sobre o que significa ser patriota ou traidor da pátria na ditadura. Afinal, o Brasil é livre para se ter pensamento ou não é? Espero que sim. Minha filha mais velha, Mariana, votará pela primeira vez ano que vem… e por um novo país, desejo.
PS – Em tempo: falando em pais e filhos, que o lacrador Gregório Duvivier cita aqui e ali, vale dizer: quando ser de esquerda matava no Brasil… minha família estava na linha de frente. História com H maiúsculo. Se quiser falar desta e desta coluna também fica à vontade.
A luta continua, né “companheiro”?