Grampo de investigação sobre milícia cita presidente estadual do PSB
Dr. Daniel Santos aparece em denúncia do Ministério Público contra milicianos por empregar dois policiais suspeitos de pertencer à quadrilha
Numa cena de “Tropa de Elite 2”, filme de 2010, o chefe da milícia telefona a um deputado pedindo ajuda para reintegrar à PM um policial afastado. “Pega o RG dele aí e manda se apresentar na segunda-feira”, responde o “padrinho”. Um caso semelhante, e da vida real, aparece no grampo telefônico feito pela polícia do Pará, em julho de 2019, que cita o presidente estadual do PSB, Dr. Daniel Santos. O partido é o mesmo do vice-presidente da República, Geraldo Alckmin.
A coluna já revelou a denúncia do Ministério Público contra suspeitos de formar um grupo de extermínio no Pará, entre eles o vice-presidente estadual do PSB, Hugo Atayde. Ele responde a processo criminal junto com oito policiais militares, apesar de negar isso (leia abaixo a nota enviada à coluna). Já Dr. Daniel, presidente do partido e também prefeito de Ananindeua (PA), é citado na investigação pela Promotoria de Justiça, embora não seja alvo direto de acusação.
Conforme a denúncia, os milicianos tinham “influência política”, sendo que dois deles eram funcionários do gabinete de Dr. Daniel, quando ele exercia o mandato de deputado estadual. Um dos assessores, o soldado Paulo, servia de motorista para Dr. Daniel, que presidia a Assembleia Legislativa do Pará, em 2019.
A novidade agora é uma escuta telefônica feita com autorização judicial, obtida com exclusividade pela coluna. “Durante o monitoramento telefônico, o soldado Paulo orienta outro policial, que não foi identificado, como proceder para tentar o retorno para a PM por vias escusas, após a exclusão, utilizando para tanto o apadrinhamento político”, diz relatório da Delegacia de Homicídios.
Na conversa, o homem não-identificado alega que o soldado Paulo “está com [o deputado] Daniel direto”. “Muitos parceiros já voltaram com indicação de um deputado, igual ao nosso aí”, diz o homem. Em seguida, ele pergunta “o que Paulo lhe orienta nessa situação”. O soldado responde que “tem que saber se deram algum papel para [o policial expulso], quando ele saiu da folha [de pagamento] e se publicou no Boletim Geral [da PM]. Depois ver o nome dele completo com RG”. Isso lembra bem a cena de “Tropa de Elite 2”.
O relatório da Delegacia de Homicídios diz ainda que o soldado Paulo, naquela época, estava “cedido para o gabinete do deputado Dr. Daniel. Entretanto, não há evidências ou indícios que ligue o parlamentar à atividade do grupo criminoso ora investigado”.
A denúncia do MP afirma, porém, que os supostos milicianos tinham “forte influência política no Poder Legislativo do Pará, sendo que dois [PMs] suspeitos, à época dos fatos [em 2019], encontravam-se cedidos à Assembleia Legislativa, junto ao gabinete do seu presidente, Daniel Santos.”
Hugo Atayde, atual vice-prefeito de Dr. Daniel e também vice-presidente do PSB estadual, aparece como réu na ação penal número 0816318-11.2021.8.14.0006, da 3ª Vara Criminal de Ananindeua (PA), acusado de formação de quadrilha e crime de tortura. Ele nega qualquer delito. Afirma que não há provas e, em março passado, entrou com um recurso para trancar o processo.
O QUE DIZEM OS CITADOS
Procurado pela coluna, a prefeitura enviou a seguinte nota sobre o caso: “Conforme certidão de antecedentes enviada à coluna, o vice-prefeito Hugo Atayde não responde e nunca respondeu ao processo já que todas as denúncias, inclusive as citadas pela coluna, foram rejeitadas pela Justiça por completa falta de embasamento na realidade e conexão com a verdade. Lamentamos a insistência desta coluna em tentar noticiar algo rejeitado pela Justiça e e que só atende a interesses políticos locais.
Ascom- Prefeitura Municipal de Ananindeua”







