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Matheus Leitão

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Blog de notícias exclusivas e opinião nas áreas de política, direitos humanos e meio ambiente. Jornalista desde 2000, Matheus Leitão é vencedor de prêmios como Esso e Vladimir Herzog

Justiça proíbe ONG evangélica de manter contato com indígenas no Amazonas

Determinação judicial prevê encontros somente com autorização da Funai. Coordenador da área de índios isolados do órgão é ex-membro da entidade religiosa

Por Matheus Leitão Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 22 set 2020, 12h16 - Publicado em 17 abr 2020, 15h40

A Justiça Federal proibiu que a Missão Novas Tribos do Brasil (MNTB), principal organização religiosa que prega a evangelização de indígenas na Amazônia, mantenha contato com etnias sem autorização da Fundação Nacional do Índio (Funai).

A decisão é importante porque afasta, por ora, a sanha cada vez mais incontrolável dos evangélicos de doutrinar algumas das etnias indígenas que vivem na Amazônia. Acontece que entidade em questão, a MNTB, é a mesma da qual fazia parte o atual coordenador-geral de Índios Isolados e Recém Contatados da Funai, Ricardo Lopes Dias. 

Com formação em Antropologia e Teologia, Dias atuou como pastor na MNTB, que é acusada de camuflar seus objetivos religiosos de evangelismo nas aldeias com ações de educação e assistência. Exatamente por isso a nomeação de Ricardo Lopes Dias é criticada por indígenas e indigenistas. Também é discutida na Justiça por ação do Ministério Público Federal.

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Na medida cautelar, que atende a um pedido da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), o juiz Fabiano Verli destaca que é preciso respeitar as terras habitadas pelos índios. “Os territórios indígenas do Brasil não podem ser uma terra em que qualquer um chega, brasileiros ou não, fazendo o que quer sem monitoramento”, destaca. 

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A terra indígena Vale do Javari, representada pela Univaja na ação, fica situada na região amazônica e tem fronteira com o Peru, ao fim de uma área de 8,5 milhões de hectares. É a segunda maior terra indígena demarcada do Brasil, atrás apenas da Yanomami, que possui 9,6 milhões de hectares de extensão.

Coronavírus 

Além de proibir o contato com os indígenas do Vale do Javari sem aprovação da Funai, a determinação judicial tem o intuito de prevenir a proliferação do contágio do coronavírus entre os povos indígenas isolados devido à vulnerabilidade dos nativos. Dos 28 registros confirmados de índios isolados no país, 10 deles estão neste território, o que atrai a atenção de especialistas de diversos países.

“Vê-se que o que os faz ‘isolados’ não é o desdém, racismo ou sectarismo imaginável, mas o medo do contato (…). Eles simplesmente não têm um patrimônio de anticorpos e germes (adquirido por eurasianos ao longo de séculos) capaz de reagir bem a diversos tipos de exposição a germes que nós, descendentes ou não de índios, carregamos de modo inócuo para nós, não para eles”, enfatiza o magistrado sobre a terra indígena com mais indígenas isolados no mundo.

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Segundo indigenistas ouvidos pela coluna, os índios têm medo da morte, sobretudo por doenças. Para os povos isolados, as enfermidades são atribuídas, normalmente, à feitiçaria de inimigos ou ao desrespeito a regras espirituais. Sendo assim, um simples resfriado ou a Covid-19 são deletérios da mesma forma para os isolados. 

Carta a Moro

As tentativas de contato de grupos evangélicos com povos isolados vêm enfrentando resistência por parte dos indígenas e ambientalistas. Nesta semana, cerca de 130 lideranças de sete etnias (Marubo, Matses, Matis, Kanamari, Tsohom Djapa, Kulina Pano e Korubo), que representam 63 aldeias da Terra Indígena Vale do Javari, assinaram uma carta ao ministro da Justiça, Sérgio Moro, na qual demonstram várias preocupações sobre a atual política da Funai, subordinada à pasta.

A mais sensível delas, segundo a missiva, é o fato de que “informações confidenciais sobre a localização dos índios isolados poderão ser expostas para grupos fundamentalistas ou até mesmo para outros interessados que têm esse desejo” no território do Vale do Javari. 

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O que diz a Missão Novas Tribos do Brasil

“A Missão Novas Tribos do Brasil (MNTB) informa que até o momento não recebeu nenhuma notificação referente ao processo movido pela UNIVAJA, mas que está a disposição das autoridades para qualquer esclarecimento inclusive o de REITERAR que desde o dia 23/03 deste ano, NENHUM missionário da entidade está em terras indígenas. Além disso, esclarecer novamente que NÃO trabalha com povos isolados. O Departamento jurídico da MNTB assim que notificado irá peticionar todos os esclarecimentos acima.

É importante informar que área de atuação da Novas Tribos no Vale do Javari não é de isolados, mas uma comunidade conhecida e, inclusive, de grande trânsito de indígenas para as cidades e vilarejos próximos. Além da liderança indígena local, tanto a coordenação da FUNAI em Atalaia do Norte (AM) como a própria União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (UNIVAJA) são conscientes da presença missionária há tempos. Portanto, a atuação da MNTB entre os Marubos é um fato conhecido e também reconhecido pelo respeito, amizade e pelas boas contribuições que presta para as comunidades.

No Vale do Javari também vivem não isolados, como os Mayoruna, Kulina, Kanamari e os Marubo, povos em contato decano com a sociedade brasileira. Vida Nova é uma comunidade Marubo com presença missionária há mais de 60 anos, não se trata de um grupo de recente contato, muito menos isolado. A terra indígena Vale do Javari foi demarcada em 2001, mas os missionários vivem  lá desde muito antes. O antropólogo Júlio César Melatti, em sua viagem de pesquisa de campo em 1974, cita a ação dos missionários na ajuda aos Marubos quando poderiam ter sido dizimados por tuberculose”.

O coordenador-geral de Índios Isolados e Recém Contatados da Funai, Ricardo Lopes Dias, afirmou, através da Funai, que sua qualificação profissional como antropólogo não é respeitada, e que existe preconceito com o fato de ele professar a fé evangélica.

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