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Blog de notícias exclusivas e opinião nas áreas de política, direitos humanos e meio ambiente. Jornalista desde 2000, Matheus Leitão é vencedor de prêmios como Esso e Vladimir Herzog

Lula e Flávio Bolsonaro: dois pesos e duas medidas?

STF permite acesso a mensagens obtidas por hacker, mas STJ decide que informações surgidas após fundamentação falha devem ser anuladas

Por Matheus Leitão Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 11 mar 2021, 17h34 - Publicado em 3 mar 2021, 16h18

Nos últimos dias, o Judiciário mostrou tendências diferentes em casos de grande repercussão política no país. A decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), de anular a quebra de sigilo bancário do senador Flávio Bolsonaro no caso das “rachadinhas’’, invalidou provas de movimentação bancária porque, na visão da maioria de uma turma da corte, a fundamentação do pedido do juiz de primeira instância estava falha. 

Ou seja, o juiz Flávio Itabaiana, da 27ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça (TJ) do Rio de Janeiro, não teria feito uma fundamentação adequada. Enquanto isso, a instância superior ao STJ, o Supremo Tribunal Federal (STF), liberou para a defesa do ex-presidente Lula o acesso às mensagens obtidas através de hackeamento dos celulares do ex-juiz Sergio Moro e dos procuradores que atuaram na Lava Jato.

As conversas hackeadas ainda não foram aceitas como provas – isso será julgado pelo Supremo-, mas, com base nelas, os advogados de Lula tentarão colocar a atuação de Moro sob suspeição. O objetivo é anular as condenações contra o petista, mostrando que sua prisão resultou de combinações estabelecidas previamente entre os procuradores e o ex-magistrado. 

Mesmo que a legalidade das provas não tenha sido ainda julgada pelo STF no caso das mensagens obtidas ilegalmente, juristas acreditam que há dois pesos e duas medidas nas decisões das cortes nesses dois casos extremamente polêmicos.

“Se você comparar as duas decisões, o STF aceita que um hacker ‘hackeie’ um juiz e autoriza a utilização disso como meio de prova para anular um processo. Ainda não decidiu se vai anular, mas praticamente já aceitou como meio de prova. E agora, na decisão do Flávio, como aconteceu? [O STJ diz]: ‘por falta de uma fundamentação eu não posso usar como meio de prova. É uma prova obtida de forma ilícita porque o juiz determinou sem fundamentação correta’. São dois pesos e duas medidas, só que uma foi tomada pelo STJ e outra pelo STF”, analisou um jurista em conversa com a coluna.

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Caso o Supremo reafirme a autorização do uso das mensagens hackeadas, ele estará dizendo: “pode-se usar a prova obtida de forma ilícita, desde que ela seja uma prova cabal, uma prova que resolva o problema do crime”. Ou seja, se a teoria do caso de Lula for usada no processo de Flávio Bolsonaro, pode haver uma reviravolta – não importa a forma da fundamentação, mas sim que um crime foi descoberto.

Portanto, na visão de alguns juristas, se o STF entende que uma prova obtida por um hacker pode ser liberada para que a defesa de Lula tente anular suas condenações, as transações bancárias de Flávio Bolsonaro também poderiam valer, mesmo que a fundamentação do juiz não tenha sido tão bem elaborada, como prevê a lei. No caso de Flávio Bolsonaro ainda há o agravante de que o magistrado refez a sua fundamentação, corrigindo o eventual erro de origem. 

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