Sabe o que é pior. Eu acreditei de fato que o apresentador Luciano Huck, ao lado da Angélica, podia nos ajudar a tirar desta polarização irracional que tomou o Brasil e os brasileiros de assalto nos últimos anos.
Mas, pela segunda vez, Luciano Huck correu da responsabilidade que a História, às vezes, coloca nas mãos e nos ombros de pessoas especiais, diferenciadas, como ele e sua esposa.
Muitos, quase eleitores dele, alguns bem jovens, não esquecerão que Huck escolheu o dinheiro, a fama, o domingão do Faustão, ao mais importante: a busca por colocar o seu nome na História como aquele que se esforçou para tirar o país deste mar de desesperança.
Lamentavelmente, ele preferiu pensar mais em seus projetos pessoais e colocá-los acima do país.
Huck tinha todas as possibilidades de ser a alternativa para pôr o país nas mãos do centro (e não o Centrão, entendeu Arthur Lira?). Claro que não faria isso sozinho, mas, quem sabe, poderia atrair correntes políticas que estão hoje fragmentadas, se continuasse mostrando viabilidade eleitoral.
VEJA fez o certo em entrevistar Huck – é notícia e tem interesse jornalístico. Por isso, me orgulho de trabalhar na revista.
Mas Huck perdeu-se no caminho. Estava assessorado pelo melhor governador que liderou um estado no país nos últimos anos: Paulo Hartung. Ele acertou as contas do Espírito Santo, transformando o território capixaba em um orgulho nacional.
Era melhor ainda: tinha ao seu lado o brilhante ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, que dispensa comentários. E, além dos dois, havia outros especialistas em diversas áreas doando seu tempo e propostas para dar consistência a um programa.
Podia ser até um sinal para os evangélicos, que abraçam vergonhosamente Jair Bolsonaro, saber que Huck professa a fé cristã de forma mais madura.
Mas estamos falando também de Luciano Huck, o apresentador que fez um trabalho social incrível em seus programas de TV, na última década, e poderia, sim, ser presidente da República.
Ler, agora, ele falando que a “ameaça à democracia tem de nos unir acima de ideologias” é o fim da picada. Como bem resumiu VEJA sobre a entrevista, “o apresentador […] diz que políticos têm de enxergar os problemas do povo”.
Na democracia que ainda somos, todo brasileiro tem direito a participar do debate público. Mas Luciano Huck deveria se abster por um tempo, dado que acabou de decepcionar muitos eleitores. Não está preocupado com “os problemas do povo”. Caso estivesse, teria escolhido outro caminho.
Deveria se concentrar agora na sua carreira de apresentador de televisão, e somente nela, enquanto tentaremos reorganizar o país, que tem se afundado no caos.
É compreensível sua entrevista. Huck está tentando justificar aos brasileiros porque abandonou a corrida e, mais, porque o fez PELA SEGUNDA VEZ. Isso, com expressivos pontos em pesquisas eleitorais.
Contudo, vê-lo comentar o fiasco da manifestação da terceira via nas ruas, um fato comentado aqui, quando ele, que poderia ser o catalisador deste terceiro caminho, escolheu ter um belo salário para apresentar o programa televisivo mais assistido do domingo, não é correto. É desleal.
Volte para o seu posto de apresentador. Os brasileiros vivem com um salário real, e orçamento apertado, com o desemprego.
Pare de fazer esse jogo duplo. Uma vez tudo bem. Duas vezes, é demais. Seu caminho é o do entretenimento, não o de mudar verdadeiramente a vida das pessoas, dos brasileiros que tanto almejam por novas propostas, novas ideias, uma renovação na política. Dançou, Huck. Agora seu objetivo será lutar para manter a audiência. Bom trabalho na Globo.