MP-SP afirma que diretor da Cruz Vermelha recebe comissão por doações
Já o presidente da instituição recebe remuneração para exercer cargo voluntário

A coluna teve acesso a documentos inéditos da investigação do Ministério Público de São Paulo que confirma algumas das suspeitas sobre a remuneração de gestores da Cruz Vermelha Brasileira em São Paulo. O material revela práticas controversas de remuneração na entidade, com destaque para o comissionamento sobre o valor das doações recebidas pela instituição e pelo pagamento de remuneração a cargos tradicionalmente voluntários.
Em parecer assinado em julho deste ano, o promotor Ricardo Manuel Castro, da Promotoria de Justiça do Patrimônio Público e Social de São Paulo, afirmou que “solicitadas informações em sede de diligências preliminares, esclareceu-se que a remuneração tanto do presidente da entidade como de seus diretores provém de recursos próprios da entidade, por meio de receitas oriundas da gestão de seu patrimônio imobiliário, tendo apenas, com relação ao diretor, base de cálculo parcialmente fixada no valor auferido a título de doações, fatos esses corroborados por extratos e relatórios de auditorias externas”.
A denúncia que motivou a apuração afirmava, como revelou esta coluna, que o diretor-executivo Bruno Semino recebe mensalmente R$ 65 mil, como pessoa jurídica, e também uma comissão sobre os valores arrecadados pelas campanhas humanitárias da Cruz Vermelha paulista. A denúncia apontava que ele ficava com 5% de todos os valores arrecadados. Para o exercício da mesma função em outros estados, os dirigentes recebem, em média, R$ 12 mil, contratados pelo regime celetista. Já o presidente da filial paulista da Cruz Vermelha, Jorge Wolney Atalla Júnior, era acusado de fazer retiradas irregulares de dinheiro da entidade.
Apesar da controvérsia sobre a remuneração dos dirigentes, o MP-SP optou por arquivar o inquérito, uma vez que não encontrou evidências de desvio de verbas públicas por parte da instituição.
Em maio deste ano, após a coluna revelar a instauração do inquérito, a assessoria de imprensa da Cruz Vermelha São Paulo negou as acusações relativas à remuneração de Semino e Atalla Júnior.
O que dizem os envolvidos
Ao obter o novo documento, a coluna questionou a Cruz Vermelha sobre a afirmação do Ministério Público de que o diretor recebe comissão sobre as doações e que o presidente é remunerado para exercer uma função que, tradicionalmente, é voluntária. Como resposta, a Cruz Vermelha paulista enviou a seguinte nota, reproduzida abaixo, na íntegra:
“Sobre o documento do MP de julho de 2024, a Cruz Vermelha SP ratifica que nem o presidente e nem seus diretores estatutários recebem remuneração. Trata-se de gestão voluntária e, em razão disso, o próprio promotor público julgou tratar-se de acusação improcedente, na ocasião. Devido à complexidade da estrutura organizacional da instituição, acredita-se que possa ter acontecido um equívoco conceitual no momento da redação da sentença de arquivamentos. Todos os documentos apresentados, que são devidamente auditados, comprovam tal situação. Em relação à remuneração do diretor-executivo, mencionada no documento do MP, ela é oriunda de recursos próprios da instituição, estando a contratação do mesmo dentro do que possibilita o estatuto. É importante ressaltar que a Cruz Vermelha São Paulo é uma instituição que conta com uma estrutura de governança corporativa, passando anualmente por processos de auditoria independente.”