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Matheus Leitão

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Blog de notícias exclusivas e opinião nas áreas de política, direitos humanos e meio ambiente. Jornalista desde 2000, Matheus Leitão é vencedor de prêmios como Esso e Vladimir Herzog

O primeiro Oscar com significado muito além da festa

Eunice, Rubens, Veroca, Eliana, Marcelo, Analu e Babiu venceram no final

Por Matheus Leitão Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 3 mar 2025, 11h53

Eunice e Rubens Paiva sempre estiveram na nossa casa. Marcelo também. Desde Feliz Ano Velho, lançando quando eu tinha cinco anos. Que lindo ano novo é 2025. O jornalismo em primeira pessoa do autor foi o meu farol por muitos anos. Virou o farol do Brasil em Ainda Estou Aqui.

A luz apontada para uma mulher que resistiu à violência da ditadura contra ela, os filhos e o marido, o ex-deputado levado da própria casa para um prédio do estado para ser torturado e morto, deu ao Brasil o seu primeiro Oscar.

Ao ganhar o melhor filme internacional, Walter Salles fez um discurso impecável. Curto e discreto, como é seu estilo. Descreveu Eunice como ela merece. Heroína que decidiu resistir pela memória, verdade e justiça enquanto criava cinco filhos. Depois, Walter mirou às Fernandas que nos enchem de orgulho. Rainha mãe. Rainha filha.

Que orgulho enorme ver as Fernandas pelo mundo, mostrando a competência, graça e a beleza de um país que sorri, é feliz não só no Carnaval, mas também chora por Marias, Clarices e Eunices, por seu passado e seu presente.

A dor ainda está aqui. E por vários motivos.

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No caso da família Paiva, o crime permanece. O corpo não foi entregue a Eunice, Marcelo, Vera, Maria Eliana, Ana Lúcia e Maria Beatriz, assim como tantos outros.

O crime de ocultação de cadáver é permanente no Brasil – “subsiste até o instante em que o corpo é descoberto, pois ocultar é esconder, sendo irrelevante o tempo em que o cadáver estava escondido”, disse um jurista certa vez.

Pois a Justiça brasileira, incluindo o Supremo Tribunal Federal, nunca obrigou o estado a encontrar os restos mortais de Rubens, usando como desculpa uma Lei de Anistia que deveria ter sido derrubada pela corte há décadas.

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Esse sombrio vácuo da família Paiva poderia ter destruído qualquer pessoa. Não a gigante Eunice, ou seus filhos. Foi justamente neste lugar que Marcelo descreveu a grandeza de sua mãe no livro. Apontando também para este local que Walter Salles mostrou ao mundo a resistência heróica de uma mulher e mãe, mas também as contradições de um país que escondeu a memória e a Justiça por conveniência.

Jair Bolsonaro, o ex-presidente inelegível que venceu a eleição de 2018 fazendo odes à tortura e à ditadura, cuspiu no busto de Rubens Paiva quando inaugurado na Câmara dos Deputados.

Ele não perdeu o mandato. Não foi punido em nada. Nem por isso, nem por outros absurdos nefastos que aqueles que resolveram nunca esquecer lembram com ódio e nojo. Os outros brasileiros, não sei. Cuspiram juntos ou fingiram que não viram?

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A memória do parlamentar arrastado de casa na frente dos filhos e de Eunice, torturado e morto pela ditadura, foi ferida pelo abjeto político brasileiro que, tantos anos depois, escolheu colocar Ustra e Curió para dentro do Palácio do Planalto. A tortura e assassinato no centro do poder.

O cuspe, desculpe voltar nele, aconteceu na frente dos netos de Rubens Paiva – a sociedade nos mais sombrios anos do país desde a escravidão. Por que o Brasil permitiu? Porque é o que somos também. Não fosse isso, a extrema-direita não teria governado entre 2019 e 2023.

Sem esquecer dos horrores, hoje olharei apenas para o Brasil que se alegrou com a vitória de Walter Salles, que comemorou todas as glórias da Fernanda Torres, a transformou na rainha deste Carnaval, enchendo cinemas – cravando essa história para sempre no nosso coração.

O lindo de 2025? É ver, na noite que passou e neste Carnaval, o colorido das Fernandas. E saber que Eunice, Rubens, Veroca, Eliana, Marcelo, Analu e Babiu venceram no final.

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