Os desafios que Rosa Weber superou em silêncio no STF
Ou... Rosa e a imprensa: uma 'relação' assim delicada
O histórico discurso de despedida da ministra Rosa Weber – presidente do Supremo Tribunal Federal que entrega o cargo nesta quinta, 28, a Luís Roberto Barroso – teve um bonito capítulo destinado à imprensa.
Capítulo, não. Parágrafo.
Mas quem acompanha o trabalho de Rosa Weber sabe que cada parágrafo ali se conecta com um capítulo de sua história na magistratura, que começou em 1976.
Nesses 46 anos de serviços, ousou silenciar mais do que falar.
Emocionada e emocionando a muitos nesta quarta, 27, a ministra reiterou a importância da liberdade de imprensa.
“Um agradecimento final aos profissionais de imprensa em sua cobertura diária do tribunal, reforçando a transparência. Embora seguramente não os tenha agradado nunca, ao longo deste percurso o meu silêncio habitual, estejam eles certos da admiração que nutro pela atividade que desenvolvem. A imprensa livre, como a magistratura isenta e independente, é indispensável à democracia”.
Foi aplaudida de pé nesse momento.
Nos últimos quatro anos bolsonaristas, a imprensa foi maculada com uma série de mentiras pelo chefe do executivo, que levaram seus seguidores mais radicais a uma onda de horror contra os profissionais da imprensa brasileira.
Lula, diferente agora, também fez ataques diretos contra jornalistas (numa escala muito menor, obviamente) em seus primeiros mandatos. Dilma Rousseff usava indiretamente sites ligados à esquerda para tentar manchar a imagem desses profissionais.
Rosa Weber, não.
Em meio a esse quadro desafiador das últimas décadas, ela se mostrou consciente do seu papel institucional, resolveu se calar quando precisava – melhor assim, ainda mais para um juiz – e usar as palavras certas na hora certa.
“A resistência, a resiliência e a solidariedade ficaram estampadas na metáfora da travessia da Praça dos Três Poderes, todos nós de mãos dadas, desviando das pedras, dos vidros, dos cartuchos de bala. [Mas] Inabalada restou a nossa democracia”, disse ela sobre o 8 de Janeiro “da Infâmia”.
Ela só foi imprecisa quando disse que nunca agradou à imprensa. Óbvio que ela tomou decisões que foram criticadas. Mas está longe de não ter agradado à imprensa. Não tenho procurações de colegas, não falo por eles.
Mas obviamente que a ministra mais agradou, especialmente quando encontrou a resiliência para presidir um tribunal totalmente destruído por golpistas de extrema direita – papel fundamental na preservação da Judiciário, sendo apenas a terceira mulher a ocupar uma cadeira do STF.
O fato de não ter dado uma entrevista, recusando todos os pedidos de veículos de comunicação, foi de fato ruim, mas não desabonador.
Que a ministra Rosa Weber saiba que a admiração é recíproca.