Pesquisas revelam uma lição que pode ser valiosa para Bolsonaro
Ou... o ensinamento da extrema-direita francesa que o presidente pode colocar em prática
O cientista político Antônio Lavareda, responsável pelo Instituto Ipespe de pesquisas de opinião, afirmou à coluna que qualquer movimento ao centro do presidente Jair Bolsonaro, que tem uma desvantagem de 12 pontos para Lula, poderia levá-lo a agregar mais votos neste momento do pleito.
“Bolsonaro poderia fazer, como [Marine] Le Pen, um movimento centrípeto que permitiu a ela agregar mais quase 10% dos eleitores”, disse Lavareda.
“Insistir no discurso radical para agradar sua base original de nada serve. Nem é necessário. Ninguém o desafia nesse campo. Não temos um Zemmour, alguém mais à direita o ameaçando”, completou.
Le Pen foi a candidata da extrema-direita na França, derrotada duas vezes por Emmanuel Macron mas que, em 2022, ampliou o seu eleitorado em quase oito pontos percentuais em relação a 2017.
Zemmour é um outro candidato extremista na França, mas da ultradireita, que coloca Le Pen muitas vezes em uma situação desconfortável, precisando falar aos eleitores de extrema-direita.
Mesmo assim, a candidata se movimentou ao centro e obteve 2,6 milhões de votos a mais. Não por menos, foi a primeira vez que um radical de direita ultrapassou a marca de 40% dos votos no país europeu.
Óbvio que, no Brasil, Bolsonaro já ganhou uma eleição obtendo a marca de 55% dos votos e não tem ninguém mais à direita do que ele. E o presidente se comporta, muitas vezes, como um extremista que ataca a democracia.
Nesta eleição, contudo, tem visto seu principal concorrente, Lula, manter uma média de 44% das intenções de voto, há um ano, enquanto Bolsonaro variou entre 23% e 26% até março de 2022.
Somente em abril deste ano, ou seja, mês passado, ele se recuperou mais e cresceu 5 pontos percentuais, chegando a 30%. Mas apenas após a saída do ex-juiz da Lava Jato Sergio Moro.
Neste domingo, 15, o presidente fez a primeira fala em meses em que faz pequenos contrapontos com a direita radical que o segue cegamente no Brasil.
Bolsonaro disse ter pena do cara que levanta uma faixa defendendo o AI-5, minimizou os pedidos de intervenção militar e defendeu que não pensa em dar “um golpe”, independentemente do resultado.
Numa reunião na tarde desta segunda, 16, em São Paulo, ele voltou a falar aos gritos, criticou o Tribunal Superior Eleitoral, afirmou que querem “nos tirar agora o que tentaram nos tirar em 64” – segundo ele naquela época pelas armas, agora pela caneta.
E bradou, radicalizando mais uma vez, que as eleições serão conturbadas. Ou seja, ele segue querendo incendiar seus incendiários de sempre.
A cada gesto que parece ser de apaziguamento, o presidente faz outros três de confronto. Na semana passada estava em meio a mais uma crise instituições com outro poder, o Judiciário.
De qualquer maneira, a mudança de tom, se ocorrer, será algo que os analistas devem estar cada vez mais atentos a partir de agora, à medida que o calendário oficial eleitoral se aproxima.