Relâmpago: Digital Completo a partir R$ 5,99
Imagem Blog

Matheus Leitão

Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Blog de notícias exclusivas e opinião nas áreas de política, direitos humanos e meio ambiente. Jornalista desde 2000, Matheus Leitão é vencedor de prêmios como Esso e Vladimir Herzog

Por que é um erro, de novo, não condenar o golpe de 1964

Em artigo enviado à coluna, cientista político Rodrigo Silva lista sequência de erros que cercam o pós-ditadura no Brasil...

Por Rodrigo Silva
Atualizado em 9 Maio 2024, 10h55 - Publicado em 31 mar 2024, 21h00

No dia 17 de abril de 2016, quando todos assistiam ao julgamento do impeachment da presidente Dilma Rousseff e um deputado, até então levado na brincadeira, exaltava o torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra… faltou ao parlamento e ao judiciário que medidas mais extremadas fossem tomadas. Escolheram não fazê-lo.

Muitas foram as escolhas (ou a falta delas), no pós ditadura, que nos levaram ao 8 de janeiro, bem como ao silêncio do governo Lula pela passagem do bárbaro golpe de 1964, que hoje completa 60 anos.

Ainda em 1979, a fim de refazer as pontas e possibilitar um “recomeço”, pouco antes do fim do regime ditatorial, optou-se pela lei da Anistia. A escolha permitiu que muitos voltassem ao país depois de um longo período de exílio. Igualmente possibilitou que militares fossem poupados de seus crimes. Passamos à democracia muito na efusiva ideia de que se instaurava um regime que deixava para trás os tempos horrendos da ditadura. Hoje vemos que não ficou. Está tudo aí: na política, nas polícias e no próprio Exército.

Ao longo da década de 90, muito embalado pela estabilização econômica, deixamos para trás essas questões, mesmo que elas permanecessem de certa forma à volta de tudo e todos. Não esqueçamos que Marinha, Exército e Aeronáutica permaneceram com ministérios representados por seus chefes até 1999, momento em que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a descontento das próprias Forças, criou o ministério da Defesa e colocou à frente da pasta um civil.

Os anos 2000 pareciam ter apaziguado todos os ânimos. O amor vencia o ódio e a esquerda assumia o poder com certa harmonia entre os poderes. Novamente, optou-se pelo apaziguamento, o mesmo que o presidente Lula escolheu para este momento.

Continua após a publicidade

Mas o próprio Lula escolheu quem o sucederia em 2011 e a vida de Dilma Rousseff não permitiria deixar que esta História fosse esquecida. A Comissão nacional da verdade foi instaurada. Os tempos eram outros, muito mais complexos que os anos 1990 e 2000. Já batia à porta ânimos acirrados para todos os lados.

O mundo todo, e não só o Brasil, mostrava que as coisas estavam mudando. 2013 batia à porta e nada mais seria do mesmo jeito. Não haveria, como sabemos, clima. O impeachment chegaria e Bolsonaro daria sua declaração a favor de outro criminoso, o torturador Brilhante Ustra.

E o pior: seria eleito em 2018, ancorado por muitos que até o fim de seu mandato estiveram afoitos por um golpe. A história do exército brasileiro, não nos esqueçamos, é de muito mais de golpismo do que de defesa do Estado.

Continua após a publicidade

Seguimos com o lastro desse horror, que se mostra como a raiz dos maiores problemas pelos quais a sociedade brasileira passou e passa nas últimas décadas: corrupção em estatais, milícias cariocas, a falta de direitos humanos no trato policial, dentre muitas mazelas que foram chanceladas pelo discurso da Ditadura militar que durou – e de novo não esqueçamos – vinte e um terríveis anos.  Ao escolhermos pela não punição, incorremos no maldito retorno da história estatelada à nossa frente como tragédia. Traímos, dessa forma, nosso próprio futuro.

Traidor da Constituição é traidor da Pátria, dizia o deputado Ulysses Guimarães na promulgação da Carta Constitucional de 1988. De certa forma, mesmo que este governo tenha buscado restaurar o processo democrático, somos todos um pouco traidores da democracia e da Pátria quando escolhemos o silêncio diante da efeméride do golpe. É preciso bradar: Ditadura nunca mais!

* Rodrigo Silva é Mestre e Doutorando em Ciência Política (UFPR-PR). Graduado em História (PUC-PR) e aluno de Jornalismo (Cásper Líbero). Editor-adjunto da Revista de Sociologia e Política é vinculado ao grupo de pesquisa Representação e Legitimidade Democrática (INCT-ReDem)

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas 5,99/mês
DIA DAS MÃES

Revista em Casa + Digital Completo

Receba 4 revistas de Veja no mês, além de todos os benefícios do plano Digital Completo (cada revista sai por menos de R$ 9)
A partir de 35,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a R$ 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.