Homem de confiança de toda família Bolsonaro, mas investigado especificamente por sua atuação suspeita como chefe de gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio, Fabrício Queiroz retorna ao noticiário no momento em que o presidente Jair Bolsonaro vê o cerco fechar em torno de diversos apoiadores com o avançar de dois inquéritos, o das fake news e o de atos antidemocráticos. O problema é que o ex-assessor de Flávio Bolsonaro acabou ressurgindo em um imóvel do advogado Frederick Wassef, defensor do presidente e de seu filho mais velho, e frequentador assíduo do Palácio do Planalto. É aquele pesadelo que volta a assombrar. Se existem segredos na família Bolsonaro, Fabrício Queiroz sabe quais são.
Eleito com a bandeira de combate à corrupção, na esteira dos escândalos que atingiram as gestões petistas, o presidente tem sido ameaçado pelo fantasma Queiroz desde o começo do mandato. Recentemente, seu filho 01 defendeu Queiroz com unhas e dentes, dando munição para investigadores de que a relação dos dois jamais se rompera, apesar da demissão dele no período eleitoral de 2018: “um cara correto, trabalhador, dando sangue por aquilo que acredita”, disse Flávio Bolsonaro há 20 dias. Por que mesmo o demitiu então? Essa foi a pergunta dos investigadores do caso.
O fato de o advogado do presidente da República “esconder” Fabrício Queiroz em um imóvel de sua propriedade eleva o escândalo para outro patamar. Frederick Wassef entra e sai dos palácios presidenciais com muita frequência, defende Jair Bolsonaro no caso da facada e é conselheiro jurídico da família em vários processos judiciais. Esse episódio dá também mais um ponto de credibilidade na denúncia feita pelo empresário Paulo Marinho. Ele apontou que Flávio Bolsonaro recebeu informação privilegiada de uma investigação e, por conta dela, demitiu Fabrício Queiroz para se proteger na eleição de 2018. Ou seja, o esconderijo do ex-funcionário ajuda a compor o quebra-cabeças.
Fabrício Queiroz é mais do que a pessoa que trabalhou no gabinete de Flávio Bolsonaro. Sempre foi homem de confiança do próprio Bolsonaro. O presidente da República, à época deputado federal, indicou Fabrício Queiroz para o gabinete do filho 01. Especificamente no caso da rachadinha, ficou claro ao longo das investigações que vários funcionários fantasmas do gabinete de Flávio, quando ele era deputado estadual, recebiam salários e faziam depósitos rotineiros na conta de Fabricio Queiroz. Nessa lista estavam a ex-mulher e a mãe do miliciano Adriano da Nóbrega, morto recentemente.
Como se vê, o novelo que se inicia em Fabrício Queiroz segue uma linha muito complexa, mas com inúmeros indícios de crimes apontados por investigadores do Rio de Janeiro. A pergunta “Cadê Queiroz?”, bordão repetido como mantra pela oposição, finalmente tem uma resposta – e é a pior possível para a família Bolsonaro. Não só por ampliar o escândalo, com o advogado de Bolsonaro escondendo Queiroz em sua casa, mas porque acerta o presidente em cheio quando ele está fragilizado politicamente por investigações contra aliados e contra ele próprio – caso da tentativa de interferência na Polícia Federal. Em Brasília, se diz repetidamente que uma tempestade perfeita pode estar se formando em torno da família presidencial. Ela vai ficando forte demais para contê-la apenas com uma aliança ao centrão. Afinal de contas não era tão difícil assim saber onde estava Queiroz. Continuava um segredo de família.