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Clássicos perdem espaço na estante dos novos escritores

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Por Maria Carolina Maia Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 13 ago 2018, 21h26 - Publicado em 26 Maio 2012, 09h21
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  • lionel-shriver-getty-image-620Lionel Shriver: ‘Reli Dostoiévski e descobri que não tenho mais paciência para longas digressões filosóficas’ (Getty Images)

    A influência que os cânones da literatura exercem sobre os autores hoje é muito menor do que no passado, de acordo com um estudo que analisou milhares de trabalhos escritos ao longo de 500 anos. Matemáticos americanos, supervisionados pelo chefe do departamento da área na universidade de Dartmouth, Daniel Rockmore, fizeram uma pesquisa em larga escala sobre as tendências de estilo literário. O estudo avaliou 7.733 trabalhos escritos por 537 autores a partir de 1500 para calcular a frequência de 307 palavras — como “de”, “em” e “por”. Os pesquisadores apelidaram essas palavras de “cola sintática da linguagem”: termos que não têm significado quando analisados isoladamente, mas que funcionam como ponte entre as palavras, dando sentido ao texto e determinando um estilo.

    “Quando analisamos a frequência de algumas palavras nos textos de um grande número de autores, em um certo período de tempo, podemos responder a perguntas sobre tendências de linguagem”, diz trecho do relatório “Padrões quantitativos da influência estilística na evolução da literatura”, elaborado na universidade americana de Dartmouth e obtido pelo  jornal britânico The Guardian.

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    Nesse cruzamento de textos, a análise descobriu que os autores de um determinado período têm estilo parecido com os de seus contemporâneos e que a influência de escritores do passado perde espaço. Enquanto os autores dos séculos XVIII e XIX ainda se baseiam no estilo de antecessores, os do século XX são influenciados por colegas da própria década. “A chamada ‘ansiedade da influência’, em que os autores são avaliados de acordo com a capacidade de perpetuar o estilo dos cânones da literatura, está se tornando a ‘ansiedade da impotência’, no sentido de que o passado exerce uma pequena influência estilística sobre o presente”, diz o relatório. Isso é ainda decorrência do movimento modernista, que rejeita a “influência dos antecessores”.

    Outro fator que colabora para a diluição do poder dos antigos sobre os novos é o crescimento da oferta de livros. “É possível que a enorme produção literária dos dias de hoje torne os clássicos cada vez mais irrelevantes, porque menos lidos”, diz Daniel Rockmore, chefe do departamento de matemática em Dartmouth. “Isso não está relacionado à diminuição da importância dos clássicos na literatura, mas à relação entre leitura e escrita e entre a escrita e a língua falada.”

    Por questões relacionadas a direitos autorais, o estudo engloba apenas trabalhos escritos até 1952. Mas, para Rockmore, a influência decrescente dos clássicos será perpetuada pelos escritores atuais. A romancista Lionel Shriver, 55, ganhadora do Orange Prize, concorda com a conclusão do estudo. Ela diz que se sente mais inclinada a ler contemporâneos do que clássicos. “Eu devorei clássicos até os 20 ou 30 anos, mas, agora, leio quase exclusivamente ficção contemporânea”, afirma.

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    “Eu fico em dúvida em relação a essa evolução, mas entre revisar, resumir textos e acompanhar o que é lançado no mercado, eu não tenho tido tempo para ter contato muito regular com os cânones literários. Quando tentei fazer isso, reli um romance de Dostoiévski e descobri que não tenho mais paciência para as longas digressões filosóficas. Eu aposto que não sou a única a ter essa intolerância em relação às tradições estilísticas do passado.”

    Rockmore pensa em dividir a conclusão de suas investigações com estudiosos de literatura para saber se as fórmulas matemáticas obtidas podem ser úteis à crítica literária. “Espero que possamos engajar colegas dessas áreas para definir interesse por essas questões. Esse é um primeiro passo necessário.”

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