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Ricardo Piglia explora o outro lado do ‘american dream’

Escritor ‘à moda antiga’, Piglia constrói narrativas lineares e não usa os pulos no tempo, reminiscências e outros artifícios do romance contemporâneo

Por Diego Braga Norte Atualizado em 31 jul 2020, 03h56 - Publicado em 2 Maio 2014, 12h08
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  • ricardo-pigliaO escritor argentino Ricardo Piglia

    Com 74 anos e duas dezenas de obras publicadas – entre livros de ficção e ensaio –, o escritor argentino Ricardo Piglia costuma ter sua carreira literária quase sempre descrita com a presença da palavra “maturidade”. Ele não reclama. A julgar por sua idade, larga experiência nas letras e na academia ou simplesmente pela extensão e solidez de sua obra, é difícil encontrar outro termo mais preciso. Piglia é, de fato, um excelente escritor maduro. Em seu último romance, O Caminho de Ida (Cia. das Letras, 248 páginas, 39,50 reais a cópia física ou 27,50 o e-book), o escritor retoma em sua narrativa um fio condutor que lhe é caro: a mescla de romance policial com análises psicológicas e sociais de pessoas e situações. A fórmula já tinha sido usada com muito sucesso em títulos como Dinheiro Queimado (Cia. das Letras, 1998) e Alvo Noturno (Cia. das Letras, 2011), ambos romances bem-sucedidos.

    Além da mesma estrutura, Piglia também resgata outro personagem familiar aos seus leitores, o professor e escritor Emílio Renzi – o alter-ego do autor, que já tinha aparecido em outros livros. A nova história se passa na década de 1990, e o lugar é costa leste americana, mais especificamente numa prestigiada universidade privada. Ricardo Piglia sempre conciliou sua carreira acadêmica com sua profissão de escritor. Ele morou por 15 anos nos Estados Unidos e deu aulas de literatura nas universidades de Harvard e Princeton, onde é professor emérito. Renzi é um professor convidado pela universidade Taylor que vai ao país americano para dar um curso sobre o curioso escritor William H. Hudson – filho de ingleses, nascido e criado na Argentina, que produziu uma obra em inglês tendo os pampas como cenário e os gaúchos argentinos como personagens.

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    o-caminho-de-ida-copyNo ir e vir do burocrático cotidiano universitário, entre reuniões, relatórios e as aulas com seus alunos, Renzi acaba se envolvendo com sua colega Ida Brown, uma estrela em ascensão da crítica literária americana, muito bonita e sedutora. Nesse contexto, Piglia aproveita-se de sua experiência e de seu saber para tecer comentários sobre a obra de Hudson e para reproduzir as discussões literárias que ele tem com seus alunos e colegas. São especialmente bons seus comentários sobre os americanos e o estilo de vida local, com algumas formalidades e ritos bem diferentes para um latino-americano. E quando o romance de Renzi com Ida – escondido dos demais colegas – começa a engatar, ela morre em condições misteriosas. Abalado e intrigado, Renzi inicia uma investigação pessoal para saber a verdade por trás da morte. E é aqui que a maturidade e autoconfiança de Piglia afloram. Escritor experimentado, reconhecido e multipremiado, ele não precisa provar mais nada a ninguém. Piglia não é adepto das longas descrições, das cenas de ação desnecessárias ou dos diálogos efusivos. Ele faz da economia de elementos a força e precisão de sua narrativa.

    Escritor ‘à moda antiga’, Piglia constrói narrativas lineares e não usa os pulos no tempo, reminiscências e outros artifícios do romance contemporâneo fragmentado. Também como antigamente, o autor prefere o bom e velho travessão para redigir seus diálogos ao invés das aspas, tão amadas pelos escritores americanos e ingleses, que passaram a ser moda na literatura produzida deste lado ao sul da Linha do Equador. Piglia é direto e muito efetivo. Não perde tempo com sintaxes e construções acrobáticas, tampouco com metáforas rocambolescas. Narra e descreve de uma maneira objetiva, dando fluidez e agilidade à história – dois elementos imprescindíveis em um bom romance policial. Avesso às experimentações, o argentino Piglia faz com muita competência a ponte entre uma literatura latina com um pendor erudito – tão presente em seu conterrâneo Jorge Luis Borges – e o ágil romance policial anglo-saxônico, de escritores como o americano Dashiell Hamett e o britânico Graham Greene. As pontes erigidas por Piglia unem ainda elementos de épocas e contextos bem diferentes. É prazeroso ver a banda independente californiana Weezer ou o cineasta Martin Scorsese mencionados num mesmo livro que também cita James Joyce, Joseph Conrad e Herman Melville.

    A investigação acaba conduzindo Renzi para Nova York e Califórnia e lhe revela outro lado dos Estados Unidos, um mundo escuro, de sombras e incertezas, com personagens enigmáticas e pessoas que vivem à margem da lei, bem distante do “american dream”. Em sua aventura, entre agentes do FBI, detetives particulares e outras figuras, emerge um tipo claramente inspirado em Theodore Kaczynski. Mais conhecido como Unabomber, Kaczynski era um matemático brilhante que abdicou sua meteórica carreira universitária por um ideal utópico e amalucado. Ele se refugiou numa cabana sem luz, telefone ou qualquer forma de conforto para viver longe da sociedade de consumo. Entre 1978 e 1995, Kaczynski enviou mais de quinze bombas a alvos específicos, incluindo renomados cientistas e professores de universidades, matando três pessoas e ferindo 23. Seria Ida Brown uma vítima ou uma colaboradora do terror? Essa é um das muitas perguntas que Renzi tenta responder enquanto investiga a morte de sua amante. Suas dúvidas lhe levam além e Renzi passa a questionar as origens e a causas da violência no seio da elite da sociedade americana. As respostas podem não ser fáceis, tampouco definitivas, mas Piglia conduz a história com muita elegância e consegue manter o leitor hipnotizado.

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