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A Covid-19 roubará o Natal?

Entre a esperança das vacinas e o desânimo de uma nova onda

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 4 jun 2024, 14h22 - Publicado em 20 nov 2020, 06h00
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  • “Você pode ter se cansado do vírus, mas ele não se cansou de você.” As palavras de Anthony Fauci, o mais conhecido e teatral imunologista americano, são de um didatismo quase insuportável. Não só nos cansamos do vírus, como gostaríamos de soterrar na mais profunda das cavernas da memória todo esse annus horribilis, o horrível ano do coronavírus. Mas como ele não se cansou de nós, 2020 ainda vai demorar uns cinco anos para terminar. Todos os prognósticos de recrudescimento da pandemia no fim do ano, em especial nos países do Hemisfério Norte a caminho do inverno, estão sendo, infelizmente, confirmados. Até a Suécia, uma espécie de aldeia de Asterix na resistência às quarentenas e medidas extremas, proibiu eventos públicos com mais de oito pessoas. “A coisa vai piorar, repito, a coisa vai piorar. Cumpram seu dever e assumam a responsabilidade de parar a propagação dessa doença”, dramatizou Stefan Löefven, primeiro-ministro do país onde vivem Papai Noel, em seus domínios na Lapônia, e o imunologista Anders Tegnell, o campeão do ceticismo em relançar as virtudes da quarentena — uma intervenção à qual a Suécia continua arredia.

    Os repiques nos números de contágio, com o cortejo de hospitalizações e mortes, comprovam que o fechamento das atividades públicas são a única ferramenta da caixa para controlar os surtos. Adicionalmente, tratar as populações como crianças rebeldes — “Comportem-se e talvez seja possível ter um Natal em família” — virou uma espécie de atitude-padrão das autoridades, competentes ou incompetentes. Os pequenos ditadores que vivem no interior de todos nós, aumentando de intensidade na mesma razão do poder que acumulam, manifestaram-se nas instruções do governo da Califórnia sobre como deveria ser o dia de Ação de Graças, uma prévia do Natal: no máximo três famílias reunidas sob o mesmo teto e por menos de duas horas. De preferência, falando bem baixinho. “Todas as pessoas que forem cantar ou fazer um coral devem usar máscara o tempo todo”. E também são “fortemente encorajadas” a prender a voz, cantando em volume semelhante ou abaixo do tom de uma conversa normal. Pobres corais. Uma das consultoras médicas do governo britânico, Susan Hopkins, disse que os cinco dias de “liberdade” que os súditos da rainha provavelmente poderão desfrutar de 23 a 27 de dezembro não serão uma ceia grátis. “Para cada dia de relaxamento vamos precisar de dois dias de restrições aumentadas”, avisou. Quase entrou para os anais das decisões infames, como a do governo do estado americano de Wisconsin, que recomendou a seus funcionários o uso de máscara em reuniões virtuais mesmo quando trabalhando remotamente de casa, para dar o exemplo. Exemplo de quê? Parvoíce?

    “Todos os prognósticos de recrudescimento do vírus estão sendo confirmados, infelizmente”

    O recrudescimento do vírus que pode estragar o Natal convive com o otimismo provocado pela enxurrada de resultados mais positivos ainda do que o antecipado para as vacinas em estágios mais avançados. Aguentar mais um pouco com a solução parecendo tão próxima é um massacrante teste de paciência, esta qualidade que, segundo um dos maiores autores de autoajuda de todos os tempos, Aristóteles, é amarga, mas dá frutos doces.

    Publicado em VEJA de 25 de novembro de 2020, edição nº 2714

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