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A denúncia da ministra argentina sobre atividades do Irã bem perto de nós

Com seu estilo nada sutil, Patricia Bullrich levanta uma questão que não podemos ignorar: o eixo iraniano que se expande na Bolívia

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 9 Maio 2024, 12h15 - Publicado em 18 abr 2024, 07h55
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  • Lítio, urânio, cocaína, autoridades amigas, fronteiras permeáveis e passaportes flexíveis. A Bolívia tem muito a oferecer a um país que precipitou o Oriente Médio numa nova e histórica convulsão. Quem levantou uma assustadora suspeita sobre as atividades iranianas no país vizinho do Brasil foi a ministra do Interior da Argentina, Patricia Bullrich.

    A ministra não mede palavras e incendiou as relações com a Bolívia ao afirmar que “há presença de forças Quds” em território boliviano. “Estamos analisando se há pessoas que não falam espanhol e que têm passaportes bolivianos”, disse ela. Em ocasiões anteriores, ela mencionou “700 pessoas de origem iraniana” em território boliviano.

    Patricia Bullrich também disse que “há células do Hezbollah na tríplice fronteira” – nenhuma novidade para os serviços de inteligência do Brasil. E que uma célula do tipo foi descoberta em Iquique, no Chile, mas dois de seus integrantes “escaparam para São Paulo”.

    Atividades do tipo não são um segredo insondável, mas ganham outro peso quando enunciadas publicamente por uma autoridade governamental. Ainda mais apenas poucos dias depois que a justiça argentina endossou o que todo mundo sempre soube: a participação de mentores iranianos do mais alto nível e operadores do Hezbollah nos dois grandes atentados contra alvos judaicos em Buenos Aires nos anos noventa.

    Claro que Bolívia e Chile protestaram veementemente contra as declarações da ministra argentina.

    DUAS FACES

    Mas é um fato conhecido a estratégia iraniana de “entrar” na América do Sul através de duas portas, Venezuela e Bolívia. A estratégia tem duas faces, a pública, com acordos diplomáticos com toda aparência de legítimos, e a submersa, esta uma especialidade da força Quds, o ramo da Guarda Revolucionária iraniana que opera no exterior.

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    A face pública avançou para um novo patamar no ano passado, com a assinatura de um memorando de entendimento entre o Irã e a Bolívia, acendendo alarmes que não podem ter passado despercebidos no Brasil.

    “A possibilidade de que a Bolívia adquira drones, sistemas avançados de inteligência, de segurança cibernética e de mísseis cria um cenário que não podemos ignorar”, disse no Infobae o ex-chefe do Estado Maior do Chile, general da reserva John Griffiths, hoje num centro de estudos estratégicos.

    “Não podemos ser ingênuos diante da aquisição dessa tecnologia pela Bolívia. Os países vizinhos tomarão nota desta situação”.

    Também não deixou de ser anotada, pelo principal interessado, os Estados Unidos, a autorização dada pelo governo brasileiro no começo de 2023 para que dois navios de guerra do Irã atracassem no Rio de Janeiro.

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    SEM NEUTRALIDADE

    É óbvio que governos latino-americanos de esquerda, com seu antiamericanismo intrínseco, acham que é de seu interesse se aproximar do Irã mesmo quando este pratica atos como o “envio” de mais de 350 drones e mísseis contra Israel – para ficar na terminologia do Itamaraty.

    E também é óbvio que a Argentina de Javier Milei quer ser o exato oposto, o contraponto dessa aproximação. Patricia Bullrich, conhecida pelo estilo nada diplomático, foi explícita:

    “A Argentina e o governo do presidente Milei tomaram uma decisão que é estratégica e histórica, de não ficar no meio do caminho, mas jogar claramente do lado ocidental democrático do mundo”.

    “Nós estamos com Israel, com os Estados Unidos, com a Europa e com o mundo ocidental por convicção, porque acreditamos na filosofia da democracia, da defesa dos direitos humanos, dos países livres onde as pessoas possam escolher viver suas vidas em liberdade”.

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    “A neutralidade não é uma posição argentina”.

    “RELAÇÕES CARNAIS”

    É uma posição inteligente, ingênua ou arriscada? A Argentina já passou por algo semelhante na época de Carlos Menem, o presidente que jogou o peronismo pela janela e defendeu “relações carnais” com os Estados Unidos.

    Não adiantou muito em termos da degringolada final de seu governo – totalmente responsabilidade dele.

    Sob sua direção, a Argentina também sofreu o peso terrível do terrorismo promovido pelo Irã – e uma rede de suspeitas cercou a maneira como os casos foram investigados.

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    Agora, Patricia Bullrich denuncia que agentes iranianos em grande quantidade estão aqui do lado, num momento de extrema volatilidade para todo o mundo.

    Ah, sim. O governo boliviano disse que o acordo com o Irã é para ter drones que controlem o contrabando nas fronteiras. Perfeitamente explicado.

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